Erdogan acusa curdos pelo atentado que matou 28 pessoas em Ancara

Governo turco permitiu a passagem pelo seu território de rebeldes que foram reforçar a frente que tenta travar a ofensiva curda na Síria.

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Segundo atentado mata mais seis soldados turcos, perto de Diyarbakir Sertac Kayar/Reuters

O Presidente da Turquia, Recep Erdogan, disse haver provas que permitem concluir que as milícias curdas baseadas na Síria (YPG) e o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) estão envolvidos no ataque que, na quarta-feira, matou 28 pessoas em Ancara. As duas formações negaram qualquer participação.

Já esta quinta-feira, um segundo ataque contra uma coluna militar turca, que seguia entre as cidades de Diyarbakir e Bingol, no Sudeste do país, matou pelo menos mais seis soldados.

Antes das declarações de Erdogan, que também avançou que já foram detidas 14 pessoas, o primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu, identificou o bombista suicida de Ancara como Salih Necar, que disse ser sírio e membro das YPG (Unidades de Defesa do Povo). Foi identificado através das impressões digitais, disse. "Foi estabelecida uma ligação directa entre o YPG e o ataque", disse o primeiro-ministro, referindo que 26 dos 28 mortos eram soldados.

Na quinta-feira, um carro armadilhado avançou contra a coluna militar no momento em que os autocarros do Exército estavam parados num sinal vermelho numa zona muito próxima do Parlamento turco e de vários edifícios governamentais.

Davutoglu disse que o ataque prova que as YPG são um grupo terrorista e pressionou os aliados da Turquia a combatê-las. As milícias YPG são consideradas uma organização terrorista pela Turquia, mas são apoiadas na guerra na Síria pelos aliados ocidentais, principalmente pelos os Estados Unidos.

A Turquia participa na coligação internacional que combate o Estado Islâmico na Síria e no Iraque; não participa nos bombardeamentos, mas disponibilizou duas bases militares para apoiar as operações. Mas o Governo de Ancara decidiu envolver-se directamente no conflito sírio, realizando bombardeamentos aéreos para travar o avanço das milícias curdas na zona de fronteira, e diz que só uma intervenção militar terrestre liderada pelos EUA pode parar a guerra na Síria.

Esta quinta-feira, o Governo turco convocou os embaixadores dos cinco países com assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas (Reino Unido, Estados Unidos, China, Rússia e França). Não foi adiantado o motivo desta convocatória, mas Erdogan, citado pelo jornal turco Hürriyet, disse que a comunidade internacional tem de entender os laços que existem entre as YPG e o PKK.

Também esta quinta-feira, a Rússia — país aliado do regime de Damasco no conflito — reagiu a este apelo considerando que "não pode haver uma divisão territorial" na Síria — ou seja, é contra um Curdistão independente na Síria —, mas considerando "ilegal" qualquer entrada de tropas estrangeiras no terreno, disse em conferência de imprensa em Moscovo a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Maria Zakharova.

Em mais uma decisão destinada a travar a ofensiva curda, a Turquia facilitou a passagem de reforços da rebelião na Síria para o palco das operações curdas a norte de Alepo.

Em declarações à Reuters, o comandante da Frente do Levante, Abu Issa, disse que, nos últimos dias, chegaram à zona controlada pela rebelião em Azaz dois mil homens, acompanhados por tanques, mísseis e morteiros. Esta coluna saiu de uma área controlada pelo Governo sírio em Idlib, entrou na Turquia e reentrou posteriormente na Síria para reforçar os efectivos que tentam travar o avanço curdo, explicou o comandante. Issa explicou que entre os reforços não há homens da Frente Al-Nusra ou de qualquer outro dos grupos jihadistas que combatem na guerra da Síria.

Esta facilitação de movimentos foi confirmada por várias fontes. Pelo Governo sírio, que denunciou que cem turcos estavam entre os efectivos que chegaram à frente da ofensiva curda. Uma fonte da segurança turca disse à Reuters que a operação envolveu apenas entre 400 e 500 homens, o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, uma organização com sede em Londres e activistas no terreno, mencionou a "passagem" de "centenas" de combatentes.

 

 

 

 

 

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