Trump faz marcha atrás no degelo com Cuba

Presidente do EUA vai discursar em Miami, onde anunciará nova política.

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As restrições que vão ser impostas por Trump pode ter efeitos no turismo em Cuba EPA/Ernesto Mastrascusa

O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, vai anunciar esta sexta-feira uma nova política para Cuba, fazendo retrocessos no degelo iniciado por Barack Obama em relação ao antigo inimigo da Guerra Fria.

Será num discurso em Miami, no estado da Florida, que fará a revisão da política de aproximação a Cuba, iniciada no final de 2014 pelo seu antecessor, após mais de meio século de tensões. O chefe de Estado deverá anunciar uma aplicação mais severa das restrições às viagens para a ilha comunista, proibindo as transacções entre grupos norte-americanos e o exército cubano, que controla grande parte do sector do turismo.

É difícil avaliar para já o impacto de tal medida no sector turístico, em franco crescimento: quase 300 mil cidadãos norte-americanos viajaram para Cuba nos cinco primeiros meses deste ano, o que representa um aumento de 145% num ano.

Em 2016, Cuba recebeu 284.937 visitantes dos Estados Unidos, mais 74% que em 2015.

No plano económico, Donald Trump vai anunciar a proibição de qualquer transacção financeira com o poderoso Grupo de Administração de Empresas de Cuba (Gaesa, holding estatal controlada pelas Forças Armadas) ou as suas filiais.

O muito sensível sector do turismo – contactos com estrangeiros e elevadas receitas directas em divisas – é uma das áreas de acção do exército, que gere companhias aéreas, hotéis, restaurantes, marinas, agências de aluguer de veículos e grandes lojas.

Os dois conglomerados turísticos, Gaviota e Cubanacan, fazem parte do Gaesa, cujo presidente executivo, o coronel Luis Alberto Rodríguez Lopez-Callejas, é o genro do dirigente cubano, Raul Castro.

Ainda antes do anúncio presidencial, a cadeia hoteleira Starwood, que inaugurou há um ano um Sheraton em Cuba, alertou para os efeitos de um retrocesso. O grupo assegura a gestão do Four Points, hotel de quase 200 quartos em Havana que pertence ao grupo Gaviota.

“Apelamos à Administração Trump para que utilize o turismo como uma ferramenta estratégica nos seus esforços para melhorar as relações com Cuba (…) em vez de regressar a políticas do passado”, afirmou Arne Sorenson, presidente do Marriott International.

No seu discurso, Trump deverá igualmente afirmar a oposição dos Estados Unidos ao levantamento do embargo imposto à ilha comunista em 1962.

No final de 2016, os Estados Unidos abstiveram-se pela primeira vez na votação de uma resolução da Assembleia-Geral das Nações Unidas reclamando o fim do embargo norte-americano a Cuba. O texto foi adoptado por 191 votos e duas abstenções (Estados Unidos e Israel) dos 193 membros daquele órgão.

Sob fortes aplausos, a embaixadora norte-americana na ONU, Samantha Power, afirmou na altura tratar-se da “nova abordagem” em relação a Havana por parte da Administração Obama, sublinhando que a política norte-americana de isolamento de Cuba tinha, de facto, “isolado os Estados Unidos”.

O levantamento do embargo é uma competência do Congresso, cujas duas câmaras – Senado e Câmara dos Representantes – são controladas pelos republicanos.

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