Trump fez ultimato aos três grandes de Detroit: façam carros "made in USA"

O Presidente avisou os três maiores grupos americanos, Ford, Fiat Chrysler e General Motors, que a sua Administração tanto pode ser "extremamente generosa" como "muito desagradável".

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Donald Trump acomoda a CEO da General Motors, Mary Barra, na Casa Branca para uma mesa redonda sobre indústria automóvel Reuters/KEVIN LAMARQUE

O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, convocou os principais líderes da indústria automóvel norte-americana para uma mesa-redonda na Casa Branca, onde lhes falou sobre os seus planos para facilitar a produção e a venda de veículos “made in USA” – e repetiu as ameaças de retaliação contra aqueles que insistirem em manter unidades no México. “Vocês vão ver como nós tanto poderemos ser extremamente generosos e afáveis como importunos e desagradáveis”, disse Trump aos directores das três grandes construtoras de Detroit, Ford, Fiat Chrysler e General Motors.

Nada no discurso de Donald Trump desta terça-feira foi particularmente novo. “Vamos tornar o processo muito mais simples para a construtoras automóveis e todas as outras indústrias que queiram trazer os seus negócios para os Estados Unidos”, assegurou o Presidente, repetindo o mantra da sua campanha eleitoral – e as palavras dedicadas na véspera a outros dirigentes de gigantes multinacionais, a quem já tinha apresentado as suas ideias de simplificação do quadro regulatório e de redução “muito substancial” das obrigações fiscais que no seu entender representam um constrangimento à sua actividade.

Na conversa com os patrões da indústria automóvel, o Presidente focou as suas críticas nos regulamentos ambientais – presumivelmente de emissões e eficiência de consumo, não esclareceu – que considerou estarem “fora de controlo”. “Os nossos amigos que querem construir alguma coisa nos Estados Unidos passam muitos anos à espera de uma licença ambiental de que nunca ninguém ouvir falar antes. É uma loucura. Nós vamos facilitar tudo isto, vamos dizer muito rapidamente se vão ter licença ou não vão ter licença, mas no geral vamos dar licenças, vamos ser vossos amigos. Eu até me considero um ambientalista, acredito nisso, mas a situação está fora de controlo”, insistiu Trump.

As garantias do Presidente dos EUA foram dadas um dia depois de ter iniciado o processo de desvinculação do país do acordo de livre comércio da Ásia Pacífico e de renegociação da aliança comercial da América do Norte que vigora desde 1994. As medidas foram elogiadas pelos construtores automóveis à saída da Casa Branca: “Apreciamos a coragem do Presidente de se demarcar de um mau acordo comercial, e sentimo-nos muito entusiasmados para colaborar com a nova Administração na definição de novas políticas fiscais, de regulação e comércio, para fomentar um renascimento da manufactura americana”, declarou o CEO da Ford Motor Company, Mark Fields.

Porém, as decisões proteccionistas de Donald Trump deverão ter um impacto particularmente negativo sobre a indústria automóvel e os construtores que investiram na expansão para o México (cerca de 24 mil milhões de dólares nos últimos seis anos), avaliam analistas e organizações do sector. Num estudo divulgado na semana passada, o Center for Automotive Research estimou que a renegociação do NAFTA e a aplicação das tarifas de importação de 35% prometidas por Trump teria como efeito uma redução de 450 mil veículos no mercado americano e a perda de 31 mil postos de trabalho nos EUA.

“Se os EUA abandonarem o NAFTA, as empresas [automóveis] estabelecidas no México e Canadá deverão virar-se para locais alternativos para comprarem as peças e componentes de que necessitam: a China, a Índia e outras regiões onde existem concorrentes [aos fabricantes americanos] com preços mais competitivos”, dizia o relatório daquele think tank.

Como explica a professora da Universidade de Michigan e antiga vice-presidente da General Motors, Marina Whitman, os planos do Presidente inevitavelmente elevam os custos de produção, obrigando as construtoras a tomar decisões difíceis: ou aumentam os preços de venda dos seus veículos ou perdem margem de lucro e de investimento em novos modelos. “Será um choque terrível de absorver”, garantiu a especialista, citada pelo Chicago Tribune.

Outros estudos, como a da consultora Oxford Economics, divulgado pela NBC News, apontam o estado do Michigan (onde se localiza grande parte da produção automóvel) como um dos maiores prejudicados em caso de restrição às trocas comerciais com o México e o Canadá. Para os analistas, a pressão sobre os legisladores do Congresso dos estados mais prejudicados será suficiente para travar as iniciativas do Presidente, que não tem autoridade para impor tarifas alfandegárias.

Alguns veteranos da bancada republicana, ideologicamente comprometida com a liberalização do comércio, já manifestaram o seu incómodo e oposição às medidas proteccionistas do Presidente. “Estas decisões são contrárias à promoção das exportações americanas e à abertura de novos mercados. Só beneficiam a China, que vai poder ditar as regras da economia global à custa dos trabalhadores americanos”, criticou o senador do Arizona, John McCain.

 

 

 

 

 

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