Trump foge dos manifestantes: "Parecia que estava a atravessar a fronteira"

Na Califórnia latina, o candidato anti-imigração Donald Trump volta a enfrentar a ira dos opositores.

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A polícia efectuou pelo menos cinco detenções durante os incidentes em Burlingame, na Califórnia. REUTERS/Noah Berger
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Um manifestante atira um ovo contra um cartaz de Trump Josh Edelson/AFP

Donald Trump foi forçado sexta-feira a abandonar o veículo em que seguia e a contornar a pé um bloqueio imposto por centenas de manifestantes que o aguardavam à chegada a uma acção de campanha em Burlingame, arredores de São Francisco, no estado norte-americano da Califórnia.

O republicano e a sua comitiva deslocaram-se a pé pela berma de uma auto-estrada até um hotel onde, mais tarde, Trump voltaria a defender a construção de um muro ao longo de toda a fronteira entre os Estados Unidos e o México para travar a imigração ilegal – imagem que, de resto, o milionário nova-iorquino utilizaria para descrever a sua chegada ao comício: "Parecia que estava a atravessar a fronteira", "a passar pelo pó, pela lama e por baixo das redes".

Lá fora, e numa repetição dos incidentes da noite anterior na cidade californiana de Costa Mesa, centenas de manifestantes atiravam ovos e gritavam palavras de ordem contra Trump, acusando-o de racismo e xenofobia. A polícia, que conseguiu impedir a invasão do hotel, fez pelo menos cinco detenções. Um apoiante do republicano terá sido agredido. Vários dos opositores do candidato que vem liderando destacadamente as primárias republicanas que antecedem as eleições presidenciais norte-americanas de Novembro empunhavam bandeiras mexicanas.

Depois da "goleada" da semana passada em cinco estados do nordeste (Trump venceu no Maryland com 54,4% dos votos; em Rhode Island com 63,8%; no Delaware com 60,8%; no Connecticut com 57,7%; e na Pensilvânia com 56,7%), a corrida republicana visita este fim-de-semana a Califórnia. Cerca de 40% dos habitantes do mais populoso e rico estado do país são hispânicos e sobretudo de origem ou ascendência mexicana. No passado, Trump descreveu os mexicanos como "traficantes, assassinos e violadores".

Com a convenção estadual republicana a decorrer este fim-de-semana e as primárias marcadas para 7 de Junho – onde estão em jogo 172 delegados –, os planos de Trump para o controlo da imigração serão um tema incontornável da campanha durante os próximos dias. Profundamente impopular entre o eleitorado hispânico, e apesar da vaga de protestos anti-xenófobos e da promessa do magnata do imobiliário de adoptar uma postura mais presidencial e menos hostil, Trump não deverá tirar o pé do acelerador. Isto porque a votação nas primárias californianas está reservada a militantes registados, tendencialmente mais conservadores e mais favoráveis a um reforço do controlo nas fronteiras.  

As mais recentes sondagens, realizadas dias antes dos últimos incidentes, indicavam uma vantagem média de 17 pontos percentuais para Trump sobre os dois restantes adversários – o ultraconservador Ted Cruz e o moderado John Kasich, que firmaram um pacto de não-agressão para derrotar o rival populista. De carro ou a pé, e mesmo debaixo de protestos, a Califórnia deverá por isso colocar Trump ainda mais próximo da nomeação na convenção nacional republicana de Julho em Cleveland, no Ohio.

A convenção que decorre este fim-de-semana diz respeito apenas ao Partido Republicano da Califórnia, e assume este ano uma importância acrescida por causa da complexidade dos regulamentos das eleições primárias.

Em eleições passadas, por esta altura já era mais ou menos claro quem seria o nomeado, mas este ano os adversários de Donald Trump estão apostados em dificultar-lhe a vida – apesar de ter mais votos e mais delegados do que Cruz e Kasich juntos, Trump precisa de chegar à convenção nacional, em Julho, com pelo menos 1237 delegados para garantir a nomeação sem qualquer contestação. Se ficar aquém desse número, os seus dois adversários poderão forçar várias rondas de votações e convencer muitos delegados a mudarem o sentido de voto.

É por isso que os três candidatos estiveram este fim-de-semana na Califórnia, onde discursaram para tentarem convencer o maior número de congressistas possível – são estes congressistas que, a partir de segunda-feira, regressam aos seus condados para influenciarem os eleitores do Partido Republicano a votarem num dos candidatos nas primárias do estado, no próximo dia 7 de Junho.

Com 172 delegados em jogo, a Califórnia pode revelar-se fundamental para o futuro da nomeação – se Trump vencer a maioria dos votos, receberá a maioria dos delegados; mas se o mais votado for Ted Cruz ou John Kasich, o magnata pode terminar as primárias sem os 1237 necessários para chegar à convenção nacional descansado.

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