Trump está "triste" por se retirarem estátuas de heróis supremacistas
Republicanos evitam ir às televisões comentar as declarações do Presidente dos EUA.
Donald Trump insiste, não desiste: no Twitter, a sua arma preferida, disse estar “triste” por ver que algumas cidades estão a remover do espaço público estátuas de figuras que combateram pelos estados esclavagistas do Sul na Guerra da Secessão, o pretexto para a manifestação da extrema-direita em Charlotteville no último fim-de-semana.
“Fico triste por ver a história e a cultura do nosso grande país ser destruída com a retirada das nossas lindas estátuas e monumentos. Não se pode mudar a história, mas pode-se aprender com ela. Robert E. Lee, Stonewall Jackson – quem será o próximo, Washington, Jefferson? Que estupidez!”, escreveu o Presidente dos EUA, repisando os argumentos que tem usado.
Esta argumentação que usa os termos do património e da cultura, tentando passar para segundo plano o facto de que são ícones de uma sociedade que se baseava na escravatura e na segregação, é precisamente a usada pelos actuais grupos neo-confederados e defensores da supremacia branca, que se opõem a que sejam retirados os monumentos da Confederação dos espaços públicos, explica o Southern Poverty Law Center, uma organização que estuda o extremismo e crimes de ódio nos EUA.
A maioria dos historiadores, no entanto, sublinha que estes monumentos tinham o propósito de celebrar a supremacia branca. Foram erguidos sobretudo entre 1895 e a I Guerra Mundial, “como parte de uma campanha para apresentar a causa do Sul na Guerra Civil como justa e a escravatura como uma instituição benevolente”, disse ao Washington Post a historiadora Karen Cox, da Universidade da Carolina do Norte.
Mas no imaginário de muitos americanos, estas estátuas são símbolos do orgulho sulista, em vez da supremacia branca (54% acha isto, segundo uma sondagem YouGov/The Economist), concordando com Trump. É uma ideia bastante mais vincada entre os brancos e os cidadãos com mais de 65 anos – tal como o Presidente.
O Partido Democrata está a tentar aproveitar a onda de indignação com a manifestação e a violência em Charlottesville e lançou uma campanha para organizar activistas, na esperança de conseguir transformar em votos esta vaga.
Vários líderes do Partido Republicano tentaram afastar-se da posição de Trump, como o líder da maioria no Senado, Mitch McConnell – que não está de boas relações com o Presidente, depois de não ter conseguido repelir o Obamacare. “Não há neonazis bons, e os que partilham as suas ideias não apoiam os ideais e liberdades americanas”, declarou. O senador Lindsey Graham, um crítico habitual de Trump, exigiu-lhe que traga o partido “para a luz, e não de volta à escuridão.”
Mas o Presidente Trump varreu estas críticas como meras tentativas de “captar atenção” de políticos menores. O nível desceu tanto que os políticos estão a evitar ir aos talk-shows televisivos, para não responderem a perguntas sobre Trump. “Convidámos todos os senadores republicanos para o programa esta noite, 52”, disse Chuck Todd, da MSNBC. Até a Fox News, uma televisão solidamente conservadora, está a ter esse problema, relata o Washington Post. “Trabalhámos o dia todo, e não tivemos sucesso”, disse Shepard Smith.