Trump arrisca paralisar o Governo para construir o muro na fronteira

Presidente dos EUA reconhece que, afinal, o México não vai pagar a obra. Casa Branca exige que a bancada democrata aceite o financiamento público da sua prioridade.

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A construção do polémico muro na fronteira pode levar a um novo shutdown do Governo federal Reuters/MIKE BLAKE

É no Twitter que se encontram os grandes anúncios da Administração Trump, e foi lá que o Presidente dos Estados Unidos admitiu, finalmente, que não poderá contar com o dinheiro do México para construir o “grande e belo muro” na fronteira com que pretende travar a entrada de drogas e membros de gangues da América Central. “Talvez, mais tarde, consigamos que o México pague de alguma forma, mas nós queremos começar já a construção, é muito urgente”, insistiu o Presidente, que comemora no fim-de-semana os seus primeiros cem dias na Casa Branca sem avanços naquela que foi a sua principal promessa eleitoral.

Para a construção do muro poder avançar urgentemente, a Casa Branca precisa que a oposição democrata no Congresso aceite desviar milhões de dólares do erário público para financiar a obra. E para ultrapassar a sua previsível obstrução, exigiu que essa verba permanecesse inscrita na proposta de orçamento de um bilião de dólares (milhão de milhões), numa manobra com altos custos políticos: se a bancada liberal não votar a favor de uma resolução que permita financiar o funcionamento da Administração até à aprovação e entrada em vigor do orçamento, haverá uma nova paralisação parcial dos serviços públicos – e um novo impasse político em Washington.

Foi o que aconteceu em Outubro de 2013, quando a oposição dos legisladores republicanos, ligados ao Tea Party, ao financiamento do programa de saúde Obamacare forçou um chamado “shutdown” do Governo. Nessa altura, a bancada conservadora recusou aprovar a proposta de orçamento até à data limite de 30 de Setembro, e recusou aceitar qualquer compromisso com a Casa Branca durante 15 dias. Mas a opinião pública penalizou fortemente a postura obstrucionista dos republicanos, que terá custado cerca de dois mil milhões de dólares à economia americana.

Se o Governo voltar a fechar, os prejuízos políticos deverão outra vez ser maiores para os republicanos, que ao contrário de 2013 controlam agora o Congresso e a Casa Branca. Os líderes democratas do Senado e da Câmara de Representantes, Chuck Schumer e Nancy Pelosi, dizem que estão dispostos a votar a favor da resolução orçamental se a Casa Branca voltar atrás e retirar a sua exigência de pagar o muro com dinheiro dos contribuintes. “As negociações entre os partidos estavam a correr bem até Donald Trump chegar e pôr uma pedra na engrenagem. Se ele desistir dessa ideia, penso que conseguimos fechar o orçamento até sexta-feira e evitar o shutdown”, afirmou Schumer.

Os legisladores, que regressaram esta segunda-feira ao trabalho depois de duas semanas de férias, têm até dia 29 deste mês para encontrar uma solução – precisamente o dia em que a Administração cumpre cem dias. Não haveria pior notícia para a Casa Branca do que assinalar a data com um novo fracasso político e legislativo.

Além da oposição de princípio dos democratas à construção do muro (e não só dos democratas, como se encarregou de lembrar Nancy Pelosi, que descreveu o projecto como “imoral, ineficiente e insensato”, “os governadores republicanos dos estados da fronteira também não querem muro nenhum”), as negociações estão em risco de descarrilar porque a Administração se prepara para apresentar, em simultâneo, o seu projecto de reforma fiscal. Esta, segundo a Casa Branca, inclui “cortes maciços de impostos” e os democratas prometem bloquea-la até Donald Trump divulgar a sua declaração de IRS, e uma nova proposta para a revogação do Obamacare – a primeira versão, saída do gabinete do speaker Paul Ryan, nem chegou a ser votada dada a reacção contrária do seu próprio partido.

Repetindo a mesma justificação de Donald Trump para afastar qualquer crítica – a de que foi ele que ganhou as eleições – o director de orçamento da Casa Branca, Mick Mulvaney, lembrou que “apesar de poderem sentar-se à mesa das negociações por causa das regras do Senado, os democratas têm de autorizar o financiamento das principais prioridades do Presidente. "Não esperem que um Presidente que acaba de vencer desista das suas prioridades”, frisou. “A minha base quer um muro na fronteira. Se vocês assistiram aos meus comícios, sabem que o que eles querem mais do que tudo é o muro”, disse Donald Trump, à Associated Press.

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