Temer terá cometido um crime de corrupção passiva, aponta a Polícia Federal

Relatório diz que há provas que indicam "com vigor" a prática de corrupção. Defesa do Presidente do Brasil critica tom acusatório do documento.

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O Presidente do Brasil encontra-se neste momento numa visita à Rússia LUSA/SERGEI CHIRIKOV

O relatório parcial da Polícia Federal (PF) brasileira enviado ao Supremo Tribunal Federal, em Brasília, conclui que o Presidente Michel Temer terá cometido um crime de corrupção passiva, “valendo-se da interposição” do seu ex-assessor Rodrigo da Rocha Loures. A notícia é avançada na noite desta terça-feira pela generalidade da imprensa brasileira, incluindo a Folha de São Paulo e o jornal O Globo.

O mesmo documento indica indícios de que o milionário Joesley Batista e Ricardo Saud, director de uma das empresas do magnata, terão cometido crimes de corrupção activa.

Segundo a PF, as provas recolhidas indicam “com vigor” a prática do crime por parte de Temer, cuja defesa requereu esta tarde o acesso ao documento.

“Diante do silêncio do Mandatário Maior da Nação e de seu ex-assessor especial, resultam incólumes as evidências que emanam do conjunto informativo formado nestes autos, a indicar, com vigor, a prática de corrupção passiva”, lê-se num dos excertos do relatório citado pelos jornais brasileiros.

Numa primeira reacção citada pelo Globo, o advogado de Temer, António Cláudio Mariz, afirma que “um relatório sobre investigações deveria ser apenas um relato das mesmas investigações e não uma peça acusatória”.

“Autoridade policial não acusa, investiga”, acrescentou.

Na segunda-feira já tinham sido divulgados alguns detalhes sobre este relatório. O jornal O Estado de São Paulo noticiava que a conclusão relativa ao crime de corrupção passiva se sustenta em acções de vigilância – numa das quais Loures, o ex-assessor de Temer, terá sido visto a fugir com uma mala com 500 mil reais – e em gravações feitas por Saud, director do grupo J&F, o presumível corruptor.

Numa das gravações áudio e vídeo, relativa a um encontro ocorrido a 28 de Abril, Saud é visto e escutado a entregar a dita mala com dinheiro a Loures num restaurante de São Paulo. Nesse encontro, o ex-assessor de Temer remete inicialmente a recolha do dinheiro para outro indivíduo – citado na peça do Estadão como “Edgar” – uma vez que “todos os outros caminhos estavam congestionados”. Saud pergunta a Loures se se trata do “Edgar que trabalha para o Presidente”. “Bom, se é da confiança do chefe, não tem problema nenhum”, acrescenta.

Apesar deste diálogo, é o próprio Loures que acaba por receber a mala das mãos de Saud, mais tarde, noutro restaurante. Este segundo encontro também foi filmado.

Segundo o Estadão, que cita outros diálogos, haveria um acordo entre Saud e Loures para o pagamento semanal de um milhão de reais a troco de uma campanha de influência sobre a petrolífera estatal brasileira Petrobras que teria como objectivo a redução do preço do gás fornecido à companhia eléctrica EPE, detida pela J&F. Temer seria beneficiário do acordo.

Com a parte da investigação relativa às suspeitas de corrupção já concluída, a PF pede agora mais cinco dias para fechar o inquérito no que diz respeito às suspeitas de organização criminosa e de obstrução da justiça.

O mais recente escândalo político e judicial no Brasil foi desencadeado em Maio com a divulgação, no Globo, de uma gravação áudio de um encontro entre Temer e Batista, em que o Presidente incentiva supostamente o empresário agora “exilado” nos Estados Unidos a comprar o silêncio de Eduardo Cunha, o antigo líder da Câmara dos Deputados, condenado a 15 anos de prisão por corrupção, e que teve um papel fundamental na destituição da Presidente Dilma Rousseff.

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