Sondagens mostram grande queda dos sociais-democratas alemães

Partido de Martin Schulz tem apenas 25% nas intenções de voto, contra 39% da CDU de Angela Merkel. Em congresso, SPD vai tentar recuperar fôlego com propostas como o casamento para todos.

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O impulso inicial da liderança de Martin Schulz no SPD perdeu-se CLEMENS BILAN/EPA

O Partido Social-Democrata (SPD) tenta este fim-de-semana galvanizar eleitores com a apresentação de propostas como o casamento para todos no seu programa num congresso na cidade de Dortmund, quando continua a cair nas sondagens para as eleições de Setembro na Alemanha.

Depois de ter tido uma subida súbita nas intenções de voto após a desistência surpresa de Sigmar Gabriel para o mais popular Martin Schulz, que saiu do Parlamento Europeu para contestar as eleições nacionais, o SPD tem vindo a cair semana após semana e na última sondagem da estação de televisão pública ZDF, tem 14 pontos percentuais de diferença para a União Democrática Cristã (CDU/CSU), de Angela Merkel. A União está com 39% das intenções de voto e o SPD apenas com 25%.

Nas últimas eleições, de 2013, o SPD obteve também 25%, e a CDU venceu com 34,1%. Se a sondagem se concretizasse em resultado eleitoral, trataria algo de completamente novo: no pós-guerra nunca o partido vencedor teve uma margem tão grande sobre o vencido.

À medida que a CDU sobe e o SPD desce, outra tendência nas sondagens tem sido a queda do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que de terceira força política com valores de 15% passou para um sexto lugar, com 7%. Antes vêm o partido de esquerda radical Die Linke (9%), Os Verdes (8%) e os Liberais (8%), que ficaram fora do Parlamento em 2013,depois de terem feito parte do Governo anterior (2009-2013), em coligação com Merkel.

Mas mesmo que obtenha um resultado tão vantajoso, a CDU não conseguiria uma maioria apenas com os Liberais. Os Verdes, que já se disseram disponíveis para se juntar a um governo quer liderado pela CDU quer pelo SPD, seriam uma opção, numa combinação apenas vista em alguns estados federados e nunca experimentada a nível nacional. A grande coligação como hoje existe, com CDU e SPD, é o resultado que todos querem evitar, porque dá menos espaço a discussões políticas esquerda versus direita e, dando a sensação de que há um enorme consenso, dá espaço a partidos radicais.

Igualdade e Europa

Com o tema “igualdade”, o SPD terá uma série de propostas mais à esquerda: além do casamento para pessoas do mesmo sexo, e direito também a adopção, o seu programa eleitoral deverá prever um aumento de impostos para os mais ricos e uma diminuição para quem ganha menos, o regresso à mesma tributação para rendimentos fruto do trabalho ou de capital, a recusa do aumento da idade de reforma (actualmente de 67 anos), mais apoio para famílias com crianças (incluindo uma potencial abolição das tarifas de creches), mais investimento nas escolas, e uma proposta de voto a partir dos 16 anos, segundo a antecipação do diário Tagesspiegel, de Berlim.

O partido tem ainda uma série de medidas na área da segurança (onde os eleitores tendem a confiar mais nos conservadores), com mais investimento na polícia (mais 15 mil lugares na força) e possibilidade de de deportação de estrangeiros que cometam crimes e ainda, segundo a emissora alemã Deutsche Welle, uma promessa de “ter mais segurança nas fronteiras externas da Europa”.

Em relação à política europeia, o SPD diz defender “um fortalecimento da Europa social” e ver com bons olhos um “governo económico da zona euro”. Mas alerta para a necessidade de renovação da União Europeia.

A grande vantagem de Martin Schulz poderia ser precisamente a sua experiência europeia (na política interna, teve apenas um cargo de presidente da câmara), mas Angela Merkel tem também aqui um dos seus grandes trunfos. Mais, o surgimento de Donald Trump na arena política internacional e o modo como Merkel tem reagido tanto às suas declarações de intenções como ao seu antagonismo pessoal tem-lhe valido grande simpatia.

Da estratégia da CDU, por outro lado, sabe-se ainda pouco. Nas últimas eleições, o tema tinha sido simplesmente “Merkel” – até os cartazes tinham apenas o famoso gesto de mãos da chanceler, que parece indicar serenidade e segurança. Mas nesta campanha, o secretário-geral do partido, Peter Tauber, disse ao diário britânico Financial Times que a CDU será “um pouco mais patriótica do que antes”. Isto porque, explicou, “estamos numa época em que os populistas de direita estão mais fortes e não queremos deixar o patriotismo a estas pessoas.”     

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