Ser ucraniano é muito perigoso…

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Em que pensa o homem do saco de ovos? Vai haver uma batalha por Donetsk, cidade russófona e capital dos separatistas pró-russos? O Presidente Petro Porochenko excluiu um ataque frontal à cidade porque se arriscaria a provocar um massacre entre civis. Mas há bombardeamentos e civis mortos. Muitos dos habitantes já fugiram “antes que seja tarde”. Sabe-se como e quando começa uma guerra. Mas nunca se sabe como e quando acaba. E que fará a Rússia?

Na quarta-feira, forças do exército ucraniano aproximavam-se da cidade. Depois da surpresa e debandada iniciais, o exército de Kiev recompôs-se e procura isolar os separatistas da fronteira russa, cortando-lhes os abastecimentos. Os ucranianos, do Leste e do Oeste, sabem que estão em guerra. Um analista russo, Konstantin Kalatchov, não tem dúvidas em afirmar: “Os soldados ucranianos compreenderam que se trata de uma verdadeira guerra e que está em jogo a sobrevivência do país.” Em que pensa o homem do saco de ovos?

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Rua de Donetsk após um bombardeamento na terça-feira, 29 de Julho BULENT KILIC/AFP

Os bombardeamentos começaram no dia 21. Kiev desmente que sejam feitos pelo exército, mas admite que sejam obra dos “voluntários auto-organizados” que combatem os rebeldes pró-russos. Nesta rua são visíveis as marcas. As ruas centrais estão quase desertas. A maioria dos supermercados fecharam as portas e os outros têm pouco para vender. Onde foi este homem buscar os preciosos ovos?

A sorte da guerra está sempre a mudar. E mais mudou com o derrube do avião malaio no dia 17 de Julho e os seus 298 mortos. A jornalista russa Iulia Latynina chamou-lhe um “segundo Lockerbie”. Fez crescer o embaraço de Moscovo e muitos pró-russos dizem-se frustrados com Putin. Temem que ele os abandone depois de os ter armado com tanques e mísseis. Os principais chefes rebeldes são russos: Alexandre Borodai (“primeiro-ministro”), Igor Strelkov (“ministro da Defesa”) e Vladimir Antiufeev (“número dois do Governo”). Kalatchov chama-lhes “os últimos soldados do Império” — o soviético, que acabou em 1991. E que fará a Rússia?

Os países não escolhem a geografia nem os vizinhos. A Ucrânia é uma nação partida e repartida por impérios ao longo da História. Depois da independência, em 1991, os ucranianos pensaram ter vantagem em ser o interface entre a Rússia e a nova Europa saída da Guerra Fria. Depressa descobriram os inconvenientes. Formularam uma doutrina pragmática; estar “dentro da Europa” e “muito perto da Rússia”. Depois descobriram o risco de servirem de teatro de uma “guerra indirecta” entre Moscovo e a aliança ocidental.

Em que pensa o homem do saco de ovos? Uma coisa ele sabe pela memória que passa de geração em geração: “Ser ucraniano é muito perigoso.”

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