Querem uma revolução? Washington, Alasca e Havai dizem que sim a Bernie Sanders

O senador do Vermont esmagou Hillary Clinton nas três votações do fim-de-semana, mas o caminho para ultrapassar a antiga secretária de Estado está cheio de obstáculos.

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Clinton continua a liderar na contagem de delegados Justin Sullivan/AFP

Os eleitores do Partido Democrata nos estados do Alasca, Havai e Washington aderiram em massa à promessa de revolução política de Bernie Sanders e varreram Hillary Clinton do mapa nos caucus deste fim-de-semana. Apesar da liderança confortável que mantém na corrida à nomeação final, Clinton sofreu derrotas tão pesadas que vai ter de passar os próximos dez dias, até às primárias no Wisconsin, a ler mais notícias do que gostaria sobre o novo ímpeto do senador do Vermont.

Dos três estados que fizeram a escolha entre Sanders e Clinton no sábado, Washington era de longe o mais importante, com 101 delegados em jogo. "Estão prontos para uma notícia de última hora?", perguntou Bernie Sanders aos apoiantes que o ouviam num comício em Madison, no Wisconsin. "Acabámos de vencer no estado de Washington!"

Quando a explosão de alegria começou a abrandar, Sanders tratou de deixar novamente a multidão em delírio: "Não deixem que vos digam que não temos hipótese de garantir a nomeação nem de ganhar as eleições gerais. Vamos ganhar as duas coisas!"

Essas contas são todo um outro assunto, muito mais complicado, mas por agora ninguém pode roubar o sabor a vitória à campanha de Bernie Sanders, um senador de 74 anos que tem tentado promover as pazes entre o eleitorado americano e a palavra "socialismo", e que não passava de um pequeno ponto destinado a desaparecer dos radares em poucas semanas quando anunciou a candidatura, há 11 meses.

Demografia e caucus
Apesar da natural euforia de Bernie Sanders, as vitórias deste fim-de-semana só foram uma surpresa por causa da dimensão, porque a demografia dos estados e os processos de votação eram mais favoráveis à mensagem do senador. Longe dos estados do Sudeste, onde os afro-americanos e os hispânicos têm levado Hillary Clinton em ombros, em Washington e no Alasca são os brancos e os jovens que imperam – o eleitorado que se entusiasmou com a revolução política prometida por Bernie Sanders contra os banqueiros de Wall Street e a favor de um serviço nacional de saúde semelhante ao que é mais comum na Europa.

Para além da demografia, Washington e o Alasca – e também o Havai – não fizeram as suas escolhas em eleições primárias mas sim em caucus, um sistema de votação que exige mais envolvimento e entusiasmo por parte dos eleitores e que já mostrou ser o ideal para um candidato que desperta muito mais paixões do que Hillary Clinton, uma das faces do establishment político norte-americano.

O que é o caucus?

No Alasca, o fosso entre os dois candidatos do Partido Democrata foi de 64 pontos, com 82% para Sanders e 18% para Clinton – uma tareia ainda maior do que a de 2008, quando Barack Obama venceu Clinton por uma diferença de 50 pontos. Em Washington, o senador do Vermont também obteve um melhor resultado contra a antiga secretária de Estado do que Obama, com 73% contra 27% (em 2008 o resultado foi 68% contra 31%). Só no Havai Clinton conseguiu fazer melhor do que na sua primeira tentativa para chegar à Casa Branca – mesmo assim, teve apenas 29% dos votos, contra 24% em 2008.

Não chega ter momentum
O problema de Bernie Sanders é que não lhe chega vencer por grandes diferenças em estados pequenos, porque a distribuição de delegados no Partido Democrata é feita de forma proporcional – mesmo que perca por muitos, Clinton consegue sempre somar alguns delegados e manter uma liderança confortável.

As grandes vitórias de Sanders este fim-de-semana traduzem-se, para já, num ganho de 35 delegados em relação a Clinton, mas esse número pode subir – o estado de Washington só distribuiu este fim-de-semana 34 dos seus 101 delegados, sendo que o destino dos restantes 67 só vai ser conhecido nas próximas semanas, à medida que o Partido Democrata for fazendo as complicadas contas da divisão por distritos.

Sem contar com esses 67 delegados ainda por atribuir, o senador do Vermont tem agora 975 e a antiga secretária de Estado tem 1243, numa corrida em que é preciso conquistar 2383 para garantir a nomeação.

É verdade que estas vitórias podem lançar o senador para uma dinâmica de vitória (o tal momentum de que muitos já terão ouvido falar), mas de pouco valem se não forem repetidas nos gigantes que ainda vão a votos, e que nas sondagens estão inclinados para o lado de Clinton – Nova Iorque (247 delegados), Pensilvânia (189 delegados), Califórnia (475 delegados) e Nova Jérsia (126 delegados). Antes de promover uma revolução política nos Estados Unidos, Bernie Sanders precisa de uma revolução no mapa eleitoral das primárias, e não apenas de momentum.

Para além de nenhum estado entregar a totalidade dos seus delegados ao candidato mais votado (algo que acontece no Partido Republicano, e que aumenta a possibilidade de uma reviravolta), o caminho do senador do Vermont até à nomeação tem outro obstáculo, chamado superdelegados. Ao contrário dos delegados que vão sendo conquistados ao longo das primárias (os tais 1243 de Clinton e os 975 de Sanders), os superdelegados podem votar em qualquer candidato na convenção, em Julho.

São mais de 700 e fazem parte das estruturas do partido – são líderes partidários, governadores e senadores. Nada os impede de mudar de ideias até à convenção, mas a maioria dos que se pronunciaram até agora disseram que vão apoiar Hillary Clinton. E se Bernie Sanders não conseguir operar a tal revolução no mapa eleitoral e terminar mesmo as primárias com menos delegados do que Hillary Clinton, poucos terão razões para mudar o seu sentido de voto.

Nesta fase da corrida, o peso dos superdelegados faz desequilibrar ainda mais a balança para o lado de Clinton, que passa dos 1243 conquistados nas votações para 1712. Bernie Sanders sobe de 975 para 1004. Resultado: sem superdelegados, Clinton lidera com mais 268; com superdelegados, Clinton lidera com mais 708. E dos mais de 700 superdelegados do Partido Democrata, 200 deles ainda não revelaram quem vão apoiar.

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