Renzi apela à abstenção em referendo sobre exploração de petróleo

Italianos foram chamados a pronunciar-se em referendo sobre as concessões de perfuração de petróleo e gás, incluindo em zonas de interesse turístico. Processo está envolto em confusão.

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Plataforma de exploração de gás natural no mar Adriático ALBERTO PIZZOLI/AFP

Os italianos estão a votar num referendo para decidir sobre a duração das concessões de perfuração de petróleo e gás até 20 quilómetros da costa e algumas até menos de dois quilómetros, em zonas que são ao mesmo tempo de interesse turístico. Mas é uma consulta popular envolta em confusão e, caso raro, o próprio primeiro-ministro, Matteo Renzi, está a apelar à abstenção.

As urnas só vão encerrar às 22h00 de Lisboa, mas às 19h00 locais (18h em Lisboa) a participação era de apenas 23,49%, o que fazia pensar que talvez não chegasse aos 50% necessários para que esta consulta seja válida. Seria um golpe para Renzi se o referendo tivesse quórum, porque isso seria um indício de que os eleitores estariam dispostos a pregar-lhe um susto nas urnas nas eleições locais de 5 de Junho. Mas não é isso que as sondagens dizem.

O referendo foi proposto por nove assembleias regionais, a maior parte da quais com maioria do Partido Democrático, do próprio Renzi. Opõem-se à exploração sem data limite das plataformas de exploração de hidrocarbonetos na costa italiana, conforme estabelece uma lei que entrou em vigor em Janeiro. Fazem-no por motivos ambientais, e por causa do impacto que têm na indústria do turismo. Quem responder “sim” no referendo estará a concordar que a lei deve ser modificada e que se devem voltar a impor limites no tempo da concessão – atribuída ao grupo energético italiano ENI.

Votar “não” significa que tudo ficará como está e por isso as plataformas (chamadas “trivelle”, em italiano) podem continuar a ser exploradas até se esgotarem. As mais antigas devem acabar em 2018, e a última em 2034.Muitas delas concentram-se no Adriático, na costa Leste, mas há algumas também na região da Apulia, na Sicília e na Calábria, no Sul.

Quão importantes são estas explorações de petróleo e gás para o abastecimento do mercado italiano? Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Económico, citados pelo jornal La Stampa, todo o petróleo no fundo do mar italiano seria apenas suficiente para satisfazer o consumo nacional durante sete semanas, e as reservas de gás natural chegariam para seis meses. Não é muito, Itália importa 90% da energia que consome.

Mas sucessivos governos apostaram no desenvolvimento da produção nacional para reduzir a dependência de fornecedores internacionais, como a Gazprom russa – seguindo, aliás, uma política da União Europeia de diversificação de fontes de abastecimento.

Também não é certo quaa importância destas plataformas. Há 92 dentro da margem das 12 milhas territoriais, mas as que estão realmente activas, diz o La Stampa, citando a ENI, serão apenas 79. Mas estas têm uma produção muito elevada: cerca de 2,7 mil milhões de metros cúbicos de gás natural (60% da produção nacional). Só que isto representa apenas 1% do consumo italiano. Quanto ao petróleo extraído nestas plataformas, satisfaz apenas 3% da procura nacional, diz a Reuters.

 

 

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