Acordo de Paris: renegociar o quê?

Há muitas incoerências no discurso em que Donald Trump anunciou a saída dos Estados Unidos do Acordo do Clima de Paris e a ideia, aparentemente benigna, de querer “renegociar” a participação norte-americana é uma delas. Os europeus já lhe responderam que não estão abertos a reabrir a caixa de Pandora. “Não vamos renegociar um acordo menos ambicioso. De maneira nenhuma”, respondeu o Presidente francês Emmanuel Macron”, na sua mensagem vídeo de resposta a Trump. A sua mensagem “Make our planet great again” quebrou recordes no Twitter.

“Não há nenhuma base legal [que leve à renegociação]. É uma mensagem política, ponto final. Diria mesmo que é um melodrama político vazio de conteúdo”, afirmou Christiana Figueres, ex-secretária executiva da Convenção Quadro da ONU das Alterações Climáticas.

Macron expressou a posição dos europeus, que não se prestaram a colaborar no conto do vigário do renascimento do carvão de Trump, cuja visão económica parece mais digna dos grandes empresários americanos do século XIX que ficaram conhecidos como “barões ladrões”.

O Acordo de Paris vingou porque não é vinculativo, ao contrário do Protocolo de Quioto. Em Paris, os Estados concordaram em prometer metas de redução das suas emissões de dióxido de carbono, consoante as suas circunstâncias nacionais, com o objectivo de impedir que a subida da temperatura média do planeta não exceda 2 graus Celsius acima dos valores anteriores à Revolução Industrial. Acima disto, prevê-se que ocorram alterações climáticas graves e irreversíveis.

O facto de não ser vinculativo – e de não ser um tratado, não tendo quaisquer implicações com a soberania dos EUA e, por isso, não ter de passar pelo Congresso norte-americano, onde os tratados internacionais encontram sempre dificuldades – foi uma insistência da diplomacia de Barack Obama. E dificilmente os EUA conseguiriam um acordo mais favoráveis que este.

A ideia de que o Acordo de Paris custaria 2,7 milhões de empregos até 2025, propagada por Trump, foi desmentida em inúmeros media locais: baseia-se num estudo com métodos muito discutíveis, feito por uma entidade financiada por empresas ligadas à exploração de carvão – o lobby que o Presidente mais favoreceu – e Charles Koch, um financiador de candidatos radical.

 

 

 

 

 

 

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