Relatório francês acusa regime sírio de usar armas químicas

Forças de Assad utilizaram gás sarin no ataque de 4 de Abril em que morreram 87 pessoas, dizem serviços secretos franceses.

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Crianças sírias manifestam-se contra ataque das forças governamentais em Khan Sheikhun EPA/MOHAMMED BADRA

Os serviços secretos franceses concluíram que as forças governamentais sírias recorreram a gás sarin no ataque na província de Idlib no início do mês e que deixou 87 mortos. Segundo a investigação revelada esta quarta-feira, o agente neurotóxico que foi utilizado tem origem nos stocks que o regime liderado por Bashar al-Assad se tinha comprometido a destruir.

“O recurso ao gás sarin não levanta dúvidas”, afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Jean-Marc Ayrault. “A responsabilidade do regime sírio também não levanta dúvidas, tendo em conta o procedimento de fabrico do gás sarin utilizado”, acrescentou, citado pelo Le Monde.

O relatório dos serviços secretos franceses corrobora as conclusões da própria Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) que na semana passada disse que os testes que realizou comprovam de forma “irrefutável” que foi utilizado gás sarin na cidade de Khan Sheikhun. No entanto, o organismo das Nações Unidas não atribuiu qualquer responsabilidade pelo ataque. Também o Reino Unido e os EUA revelaram conclusões semelhantes.

Foi em resposta ao bombardeamento de Khan Sheikhun que os EUA atacaram uma base militar síria, naquela que foi a primeira intervenção norte-americana dirigida directamente contra alvos das forças sírias. Na segunda-feira, o Departamento do Tesouro norte-americano apresentou um pacote de sanções que abrange 271 funcionários de um instituto de investigação científico sírio que é acusado de desenvolver armamento químico.

O Exército sírio rejeitou todas as acusações de utilização de armas químicas e a Rússia – principal apoiante do regime de Damasco – disse que a intoxicação de dezenas de pessoas foi causada não pelo lançamento de gases nocivos, mas sim pela destruição de armazéns na posse dos grupos rebeldes que serviriam para guardar químicos.

A investigação francesa vai mais longe e atribui responsabilidade ao regime de Assad. Um dos indícios mais relevantes é a presença de hexamina – um composto químico – nas amostras de sangue de uma das vítimas, que é considerado uma “assinatura do regime”, segundo o relatório. Os investigadores notam uma semelhança quase total entre as substâncias utilizadas neste ataque e as presentes numa granada química recolhida em 2013, após um bombardeamento. “Tudo se encaixa para acusar Damasco, a montagem, a mistura, o meio usado para o disparo”, diz um diplomata ao Le Monde.

A França apresentou um projecto de resolução no Conselho de Segurança da ONU para condenar o ataque, que acabou por ser chumbado pela Rússia.

O Governo sírio comprometeu-se no Verão de 2013 a destruir o seu arsenal químico e todas as unidades de fabrico de componentes. O acordo foi alcançado depois de uma série de ataques químicos em Ghutta, nos arredores de Damasco, em que morreram cerca de 1500 pessoas. Perante a perspectiva de uma intervenção militar norte-americana na guerra civil, Assad viabilizou a supervisão da destruição do seu armamento químico por parte de uma missão da OPAQ.

A investigação francesa vem agora questionar “a exactidão, a exaustividade e a sinceridade do desmantelamento do arsenal químico sírio”.

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