Recordando Winston Churchill

Antigo primeiro-ministro

No dia do funeral, a 30 de Janeiro, o Big Ben deu as horas até às 9h45 da manhã, permanecendo em silêncio durante o resto do dia

Nesse dia, pouco depois das 8h da manhã, a BBC anunciava a morte de Churchill, com 90 anos. Menos de meia hora depois, uma multidão começava a reunir-se junto à residência londrina de Churchill, em Hyde Park Gate.

Durante três dias, 321.360 pessoas (segundo os registos da BBC) prestaram homenagem ao antigo primeiro-ministro, que jazia em câmara ardente em Westminster Hall — uma honra que não era concedida a um estadista britânico desde a morte de William Gladstone, em 1898.

A Rainha tinha dado instruções para que o funeral de Churchill fosse rodeado da grandeza compatível com o seu papel na vida britânica. Sob o título “Operation Hope Not”, os preparativos para o funeral de Churchill estavam em estudo desde que este sofrera um acidente cardíaco em 1953, quando ainda era primeiro-ministro.

No dia do funeral, a 30 de Janeiro, o Big Ben deu as horas até às 9h45 da manhã, permanecendo em silêncio durante o resto do dia. Uma longa procissão iniciou o percurso entre Westminster e St. Paul’s Cathedral, a obra prima de Christopher Wren que resistira a 28 bombardeamentos nazis. 120 cadetes da Royal Navy acompanhavam a carruagem fúnebre, recordando a dupla passagem de Churchill pelo Ministério da Marinha (1911-15; 1939-40). Militares de 18 unidades integravam a procissão, marchando com as suas espingardas viradas para baixo. Uma centena de bandeiras eram transportadas por antigos combatentes das resistências francesa, dinamarquesa, norueguesa e holandesa.

O número de chefes de Estado e de governo que assistiram ao serviço religioso em St. Paul’s Cathedral não seria ultrapassado até ao funeral do Papa João Paulo II, em 2005: 112 países estiveram representados, incluindo seis monarcas, seis presidentes e dezasseis primeiros-ministros. Apenas o governo chinês recusou abertamente fazer-se representar.

Durante esse dia, centenas de milhares de pessoas aguardavam em silêncio, ao longo do caminho de ferro entre a estação de Waterloo, em Londres, e a de Woodstock, a passagem do comboio especial que transportava Churchill para o pequeno cemitério de Bladon, junto ao palácio de Blenheim. Tinha sido aqui, no imponente palácio dos Duques de Marlborough desde 1707, que Winston Churchill nascera, a 30 de Novembro de 1874.

O mundo prestava homenagem ao homem que, em Maio de 1940, assumira a liderança da resistência britânica e europeia ao nazismo triunfante no continente europeu. Esse homem tinha passado uma década, entre 1929 e 1939, em total isolamento político na sua bancada conservadora no Parlamento britânico, denunciando as ideologias nacional-socialista e comunista, condenando os esforços apaziguadores dos governos do seu próprio partido.

Em 1945, depois de vencer a guerra, perdeu as eleições e passou tranquilamente à oposição. Em 1946, em Fulton, no Missouri, na presença do Presidente Truman, fora o primeiro a denunciar a “Cortina de Ferro” que o imperialismo soviético fizera descer sobre a Europa central e oriental.

Regressaria ao lugar de primeiro-ministro do Reino Unido em 1951, resignando por razões de saúde em 1955. Mas fizera questão de permanecer no Parlamento, na bancada do seu partido conservador (que tinha abandonado, entre 1904 e 1924, a favor dos liberais) até 1964.

Neste ano de 2015, cinquenta anos depois da morte de Churchill, inúmeras iniciativas vão assinalar a efeméride, designadamente sob o patrocínio da International Churchill Society/Churchill Centre. Trata-se de uma instituição privada, que não recebe dinheiro dos contribuintes, com secções autónomas no Reino Unido, nos EUA, Austrália, Canadá, Islândia, Israel, Portugal e Nova Zelândia. Em Blenheim Palace, entre 26 e 30 de Maio próximo, celebraremos a memória de Churchill com uma conferencia internacional.

No Estoril Political Forum, de 22 a 24 de Junho, dedicado aos 800 anos da Magna Carta (1215-2015), o IEP-UCP acolherá James Muller, presidente do Conselho Académico do Churchill Centre, no jantar anual da Churchill Society of Portugal. Charles Moore, biógrafo autorizado de Margaret Thatcher, antigo director de The Spectator e The Telegraph, proferirá a palestra memorial Ralf Dahrendorf, onde Churchill será recordado e homenageado.

Nas próximas semanas, procurarei neste espaço revisitar alguns aspectos da filosofia política de Churchill. Tentarei identificar alguns dos principais ingredientes do seu firme comprometimento com a tradição ocidental da liberdade ordeira sob a lei.

 

 

 

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