Quem são os mortos e os desaparecidos do Mediterrâneo?

Há uma tragédia visível e uma invisível, diz um estudo. A Europa não está a fazer o que é preciso para identificar os cadáveres e avisar os familiares dos imigrantes e refugiados.

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Corpos de um naufrágio em Janeiro no Mar Egeu deram à costa num apraia turca AFP

Quantas pessoas desapareceram ao tentarem a travessia do Mediterrâneo? E quem são? E os cadáveres que foram resgatados sem identificação, que nome têm? A Europa não está a fazer o necessário para responder a estas perguntas, conclui um estudo realizado pela Organização Internacional para as Migrações (OIM), a Universidade de York (Reino Unido) e a City of London.

Entre 2015 e a primeira metade deste ano, morreram neste mar 6600 pessoas. Nem todas foram encontradas e, entre as que foram, muitas ficaram por identificar, diz o estudo.

"Atrás da catástrofe visível dos náufragos e dos corpos no Mediterrâneo esconde-se outra, invisível — não se encontram os mortos e não se faz o suficiente para identificar os cadáveres e informar os familiares", disse Simon Robins, da Universidade de York, citado pelo jornal espanhol El País.

Para realizar o estudo, os responsáveis entrevistaram sobreviventes e familiares dos que partiram rumo à Europa em embarcações, a partir de várias zonas da costa de África. A maior parte dos familiares não voltou a ter notícia dos que se fizeram ao mar. "As famílias querem sobretudo saber se estão vivos ou mortos e, caso estejam mortos, querem os corpos para os enterrar nas suas comunidades", disse Robins.

O Direito Internacional diz que todos os países têm a obrigação de indagar a identidade de imigrantes mortos e de apurar as causas da morte. Mas o estudo conclui que os países mais afectados pelo fluxo de imigrantes e refugiados que atravessa o Mediterrâneo, e chega à Grécia e a Itália, não têm recursos para fazer esse trabalho. A identificação dos corpos e a eventual informação aos familiares é relegada para um plano não prioritário quando é preciso alojar, alimentar, reencaminhar muitos milhares de pessoas. O estudo recomenda maior cooperação europeia neste campo.

Até porque as mortes vão continuar. A OIM advertiu que a travessia é cada vez mais perigosa. Por isso, este ano, o Mediterrâneo foi mais mortífero do que no ano passado — uma em cada 85 pessoas não sobreviveu, há um ano morria uma em cada 276. Isto porque os traficantes estão menos escrupulosos e põem cada vez mais pessoas nas embarcações, usam mais barcos que não estão em condições para navegar e porque há mais gente a sair da costa do Egipto, iniciando um percurso considerado mais perigoso do que o entre a Turquia e a Grécia ou a Líbia e a Itália.

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