Quanto custa a democracia

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Na Indonésia, as campanhas eleitorais são chamadas pesta demokrasi (festival da democracia) mas as eleições dão muito trabalho e, por vezes, a festa encerra frustração e violência. Com 245 milhões de habitantes e quase 190 milhões de eleitores, a Indonésia não é apenas a “maior democracia muçulmana”. É também o maior arquipélago do mundo, com 17 mil ilhas, povoado de montanhas e densas florestas. 

Decorreram na quarta-feira, dia 9, as eleições presidenciais. Havia dois candidatos, Joko Widodo, “Jokowi”, o popular governador de Jacarta, e o ex-general Prabowo Subianto, discípulo e antigo genro do ditador Suharto. Desconhece-se o resultado no momento em que escrevo. A contagem dos votos poderá demorar. Ao olhar a foto, o leitor perceberá. 

Em muitos casos, as urnas e boletins de voto têm de ser transportados por cavalos nas sendas da floresta e da montanha, noutros por pequenas lanchas, de ilha em ilha. Homens da tribo dos Dayaks, do Bornéo indonésio, levaram-nos em sacos ao ombro, abrindo trilhos na floresta virgem, no meio da lama. “Não é fácil para quem não está habituado”, disseram à AFP. “Na selva, há sanguessugas. Não há telefones. De noite, gela-se.” No Leste de Java, militares transportaram os materiais em cavalos. “As rochas escarpadas, as ravinas e as estreitas veredas inacessíveis ao automóvel ou à motocicleta. Uma manobra errada leva à morte.” 

Aviões? Seria mais rápido, mas há o problema do nevoeiro na montanha. Nas ilhas, as pequenas lanchas resolvem o problema mas não sem risco: “A meteorologia é imprevisível, os ventos são fortes e as grandes vagas podem virar o barco ou danificar os boletins de voto.”

Jacarta pensa há anos em adoptar o mecanismo indiano do voto electrónico para diminuir os problemas, acabar com o pesadelo logístico e reduzir o risco de fraude. Mas ainda não foi capaz.

Estas presidenciais são tensas porque os dois candidatos estão muito próximos nas sondagens. “Jokowi”, que não pertence à elite política, foi alvo de uma “guerra suja”. Durante meses dominou as sondagens. Mas Prabowo recuperou terreno. O antigo general, com um longo currículo de repressão que lhe valeu a expulsão do exército, quer dar a imagem de “homem forte” e diz-se adepto da concentração do poder na presidência, o que leva os liberais a acusá-lo de autoritarismo. 
Declara que as “eleições directas” não se adaptam à “filosofia fundamental da nação”. E teve uma frase genial: “A democracia é como fumar: é muito difícil parar quando se fica viciado.” Vença quem vencer, uma coisa é certa: desde a queda de Suharto e as primeiras presidenciais directas de 2004, os indonésios tornaram-se inveterados fumadores. 

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Soldados com urnas e boletins de voto numa montanha de Java SIGIT PAMUNGKAS/REUTERS

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