Quando a guerra é um desporto

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O tanque é russo e está a fazer desporto — o Campeonato do Mundo do Tank Biathlon de 2014, nova modalidade inventada pelo exército russo, está a decorrer nos arredores de Moscovo desde segunda-feira. Inspira-se no Biathlon, modalidade olímpica de ski que combina o cross com o tiro — mas com tanques em vez de skis. Todos conhecemos a paixão do Presidente Vladimir Putin pelo judo. O Tank Biathlon é, se pensarmos bem, uma forma superior, e pesada, das artes marciais. Foi registada na segunda-feira a Federação Mundial de Tank Biathlon.

Segundo as regras, as tripulações devem percorrer distâncias até 20 quilómetros, superar obstáculos, atravessar rios e pontes improvisadas, disparando contra “inimigos” fictícios — a imitação de outros tanques ou de helicópteros atacando a baixa altura. Um tiro falhado é penalizado. Há também provas de sprint e assim por diante. O campeonato termina no dia 16, em que serão distribuídas as medalhas.

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O tanque da equipa Mongolia na competição que está a decorrer perto de Alabino, nos arredores de Moscovo VASILY MAXIMOV/AFP

Entre 1963 e 1991, o Canadá promoveu anualmente um “Canadian Army Trophy” com tanques da NATO. Era o equivalente aos festivais aéreos militares, uma exibição de proezas e de confraternização entre a gente dos blindados. Os alemães ganhavam quase sempre. Depois caiu em desuso.

O campeonato de 2014 foi inaugurado pelo ministro da Defesa, Serguei Choigu. Participam 12 países: Rússia, Arménia, Bielorrússia, Cazaquistão, Quirguistão, Mongólia, China, Índia, Angola, Kuwait, Sérvia e Venezuela. Choigu garantira no ano passado a comparência de americanos, italianos e alemães. Mas o vento gélido que sopra na cena internacional não é propício à participação de países da NATO nesta celebração da “cooperação militar internacional”. Na “Frente Sul”, a Rússia continua a concentrar tropas — e tanques — na fronteira ucraniana.

A imprensa russa deu, aliás, um especial relevo à provas de qualificação realizadas em Maio e em que tomaram parte três tripulações vindas da Crimeia, compostas por antigos soldados ucranianos. Na abertura da competição, os fãs gritavam “Rússia” enquanto uma tripulação doméstica passava a linha de meta, com a dianteira esquerda do tanque desfeita pelo choque com um obstáculo.

Por razões de fair play, o general Ivan Buvaltsov, chefe do departamento de treino militar do exército, pôs à disposição dos concorrentes 60 tanques T-72B, “Slingshot” na terminologia da NATO. Os chineses recusaram a oferta, preferindo os seus 96-A.

“O desporto é a guerra, menos os tiros”, escreveu em 1945 George Orwell. Na Idade Média, a guerra tinha facetas desportivas. Os russos entendem agora que a guerra será um desporto como os outros.

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