Protestos contra o Código do Trabalho em França acabam em violência

Mais de cem pessoas foram detidas em várias cidades e 24 polícias ficaram feridos durante os confrontos. Manuel Valls condena comportamento de uma "minoria irresponsável".

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Manifestação em Paris juntou 170 mil pessoas, segundo a polícia; sindicatos falam em 500 mil Dominique Faget / AFP

Os protestos na capital francesa contra a revisão do código laboral tornaram-se violentos na última noite. Antes, nas manifestações de quinta-feira, a polícia deteve mais de cem pessoas para interrogatório e 24 permaneceram presos. O Governo revelou que 24 polícias ficaram feridos, três dos quais em estado grave.

Por todo o país, cerca de 170 mil pessoas (500 mil, segundo os sindicatos) saíram às ruas pela quarta vez em dois meses para protestar contra a revisão do código do trabalho. Em Paris, a central sindical CGT estima que tenham participado na manifestação cerca de 60 mil pessoas, entre sindicalistas, estudantes e activistas de esquerda, enquanto as autoridades apontam para 15 mil.

Por volta da 1h30 (menos uma em Portugal continental), a polícia começou a dispersar os manifestantes que ainda permaneciam concentrados na Praça da República. O acampamento improvisado, parte do movimento Nuit Debout (uma noite acordados), tinha autorização para permanecer até à meia-noite, de acordo com a AFP.

Durante essa operação, as forças de segurança – que durante a noite já tinham sido alvo do lançamento de objectos – “receberam novamente vários projécteis, provenientes sobretudo de um bloco de betão destruído”, explicou o departamento de polícia de Paris. O corpo de intervenção respondia com granadas de gás lacrimogénio e de fumo. Duas viaturas eléctricas e duas motos da polícia foram incendiadas, diz o jornal Le Parisien.


Evacuation musclée de Nuit Debout place de la... por leparisien

A polícia fez 24 detenções durante a noite, em Paris, e levou 27 manifestantes para interrogatório. Durante a tarde, 21 pessoas já tinham sido detidas. A violência espalhou-se a outras cidades como Marselha, Toulouse, Nantes ou Rennes.

O primeiro-ministro, Manuel Valls, condenou os actos de “uma minoria de irresponsáveis”. De acordo com o ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, ficaram feridos 24 membros das forças de segurança, três dos quais em estado grave.

Apesar de criticar os actos violentos, o presidente da União Nacional de Estudantes de França (UNEF), William Martinet, denunciou “o uso desproporcional de força pela polícia”. O estado de emergência em vigor por causa dos atentados terroristas de Novembro implica que qualquer manifestação seja acompanhada de um grande aparato de segurança.

A suspensão da actividade laboral durante o dia também causou perturbações nos transportes. Foram cancelados 20% dos voos no aeroporto de Orly, em Paris, e houve atrasos em Roissy, segundo a AFP.

A lei El Khomri (baptizada com o nome da ministra do Trabalho, Myriam El Khomri) tem sido alvo de uma contestação feroz nas ruas francesas. Para os sindicatos, o projecto legislativo põe em causa a segurança e a protecção dos trabalhadores, ao facilitar os despedimentos e promover o trabalho precário.

O Governo defende que as reformas são necessárias para relançar a economia e diminuir o desemprego, que ronda os 10%. Acossado por uma quebra de popularidade quase ininterrupta, o Executivo já fez várias alterações à reforma, mas os sindicatos e as associações de estudantes não querem nada menos do que o recuo total do diploma.

A contestação à reforma começou a 9 de Março, mas foi a 31 que uma das maiores manifestações desde que François Hollande está no poder (390 mil segundo a polícia, 1,2 milhões, disseram os sindicatos) mostrou o verdadeiro grau de descontentamento da sociedade francesa.

Desde então, as acções de protesto contra a lei laboral têm vindo a registar menos participação. Mas são aguardadas grandes manifestações por ocasião do Dia do Trabalhador, uma data tradicionalmente muito assinalada em França. Dois dias depois, a Assembleia Nacional começa a discutir a lei El Khomri.

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