Primeiro político japonês a pedir licença de paternidade demite-se

Depois de ter sido criticado pela classe política deste país cuja cultura de trabalho é muito conservadora, Miyazaki confessou ter tido um caso extraconjugal.

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O ministro demitiu-se e pediu desculpa pelo seu comportamento JIJI PRESS/AFP

Kensuke Miyazaki, o deputado japonês que chocou o Japão ao anunciar, no mês passado, a sua intenção de pedir licença de paternidade - pondo o tema no centro do debate político-social -, demitiu-se das suas funções, depois de admitir o seu envolvimento num caso extraconjugal quando a mulher estava grávida. 

Na sexta-feira, o membro do Partido Liberal Democrata anunciou a sua demissão depois de o tablóide japonês Shukan Bunshun ter publicado, no início desta semana, uma fotografia em que aparece com uma mulher que não a sua, saindo de uma casa em Kyoto. O jornal afirma que a foto foi tirada alguns dias antes da mulher de Miyazaki – também ela membro do Partido Liberal Democrata – ter dado à luz, a 5 de Fevereiro.

“Fiz uma coisa muito cruel à minha esposa. Estou profundamente triste por aquilo que eu tenho vindo a defender ter sido contrariado pelas minhas acções descuidadas. Por isso, decidi demitir-me”, afirmou Miyazaki, de 35 anos, à BBC.

Estas declarações geraram grande polémica no país, com o debate em torno da questão do acesso dos homens à licença de paternidade a entrar novamente na ordem do dia. O ex-ministro foi duramente criticado pela classe política por ter pedido a licença.

No ano passado, apenas 2,3 % dos homens em situação que lhes permitisse pedir esta licença o fizeram. Até 2020, o Governo japonês espera aumentar estes números para 13 %, segundo informações da BBC.

Ironicamente, o Japão tem uma licença de paternidade bastante generosa, segundo a OCDE. Os homens que acabam de ser pais têm direito a 12 meses de licença, recebendo perto de 60 % do seu salário. O facto de apenas 2,3% dos japoneses o terem feito no ano passado contrasta com países como a Suécia, onde cerca de 90 % dos homens reivindicam este direito.

No Japão, um país bastante conservador no que diz respeito ao mercado de trabalho, existe uma cultura de trabalho dominada maioritariamente por homens, o que tem dificultado as intenções do primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, de aumentar o número de mulheres no mercado de trabalho e de reduzir as disparidades salariais. No país, as mulheres, em média, apenas recebem 70% do salário dos homens, quando desempenham as mesmas funções. Isto coloca o Japão no 101.º lugar num índice de 145 países do Fórum Económico Mundial relativamente às desiguldades salariais entre géneros.

 

 

 

 

 

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