Pequim quer impedir Presidente de Taiwan de fazer escala nos EUA

A pressão surge depois de um telefonema de Donald Trump com a líder taiwanesa, que a China vê com desconfiança.

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O telefonema entre a Presidente de Taiwan e Donald Trump deixou o regime de Pequim inquieto Pichi Chuang/Reuters

O Governo chinês quer que os Estados Unidos proíbam a escala que a Presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, pretende fazer no próximo mês, quando for a caminho da América Latina, avançou a Reuters.

O Departamento de Estado já negou o pedido, argumentando que as escalas deste género fazem parte de “uma prática antiga, consistente com a natureza não oficial das relações [dos Estados Unidos] com Taiwan”. As escalas dos líderes taiwaneses são geralmente acompanhadas de encontros com alguns responsáveis americanos próximos de Taiwan.

A ronda sul-americana ainda não foi oficialmente confirmada, mas o ministro dos Negócios Estrangeiros da Guatemala, Carlos Raul Morales, afirmou à Reuters que a a Presidente tem prevista uma visita àquele país, um dos pequenos aliados diplomáticos da antiga Formosa, a 11 e 12 de Janeiro.

Segundo o Liberty Times, próximo do Partido Democrata Progressista de Tsai, a escala seria feita em Nova Iorque quando a Presidente for a caminho da Nicarágua, seguindo depois para a Guatemala e El Salvador.

A China vê com desconfiança a Presidente (que em Janeiro se tornou a primeira mulher a ocupar o mais alto cargo da ilha) acreditando que Tsai pretende avançar para a independência formal de Taiwan, que Pequim encara como parte do seu território. A suspeita aumentou depois de na sexta-feira Tsai ter falado ao telefone com o Presidente eleito dos EUA, Donald Trump. Desde que Jimmy Carter reconheceu diplomaticamente a China, em 1979 (antes reconhecia como governo chinês aquele que se sediara em Taipé na sequência da guerra civil), que nenhum Presidente americano falava directamente com um líder de Taiwan.  

A viagem de Tsai ocorrerá ainda antes de Trump tomar posse a 20 de Janeiro, e de acordo com o Liberty Times a sua delegação irá tentar encontrar-se com a equipa do futuro Presidente, incluindo o seu chefe de Gabinete, Reince Priebus. Um membro da equipa de transição considerou um encontro entre Tsai e Trump “muito improvável”.

O contacto telefónico entre Tsai e Trump terá resultado de uma operação de bastidores de seis meses, liderada pelo antigo Senador Bob Dole, a pedido do Governo de Taiwan, noticia o New York Times. Dole é lobista da firma de advogados Alston & Bird, que  terá recebido 140 mil dólares (mais de 130 mil euros) pela mediação.

O ex-senador esteve em coordenação com a equipa de campanha e de transição de Donald Trump para promover encontros entre os conselheiros do Presidente eleito e os responsáveis de Taipé, segundo indicam documentos apresentados na semana passada ao Departamento de Justiça.

Taiwan quis tirar partido do facto de haver um novo inquilino na Casa Branca para aprofundar as relações entre Taipé e Washington. “Eles estão muito optimistas”, afirmou Dole numa entrevista na terça-feira, citada pelo New York Times. “Vêem que há um novo Presidente, republicano, e querem desenvolver uma relação mais próxima”.

Não foi apenas o telefonema entre Tsai e Trump que enfureceu as autoridades chinesas. Pequim não gostou dos ataques que o magnata lançou no Twitter, no domingo, sobre a disputa no Mar da China e uma alegada manipulação monetária. “A China perguntou-nos se não havia problema em desvalorizar a sua moeda (tornando mais difícil as nossas empresas competirem) e impondo grandes taxas aos produtos que vendemos para o país deles (os EUA não taxam os deles), ou se podia construir um enorme complexo militar no meio do mar do Sul da China? Não me parece”, escreveu Trump.

Apesar de os Estados Unidos não reconhecerem diplomaticamente Taiwan, têm sido um aliado da ilha, a quem fornecem equipamento militar.

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