Partido de extrema-direita alemão não gosta de Boateng na selecção

Campanha de marca de chocolates com fotos de jogadores alemães criticada pelo movimento anti-imigração Pegida. Dirigente do AfD faz afirmações racistas sobre jogador.

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Imagem da campanha da Kinder, com Jérôme Boateng em criança

O vice-presidente do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) não gosta que a selecção de futebol do seu país tenha muitos jogadores de origem estrangeira. E exemplificou com o que só pode ser um ataque racista contra o jogador do Bayern de Munique Jérôme Boateng, cujo pai era do Gana e a mãe alemã: “As pessoas gostam dele enquanto jogador, mas não querem ter Boateng como vizinho.”

As palavras de Alexander Gauland, numa entrevista à edição de domingo do jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung, causaram escândalo. O defesa Boateng, nascido em Berlim e um dos melhores jogadores do mundo, deve ser o capitão da selecção alemã no Euro 2016, que começa a 10 de Junho em França. Foi já uma peça fundamental na conquista do Mundial de 2014 pela Manhhschaft, que já há muitos anos é composta por jogadores de origens diversas, reflectindo o resultado de política de abertura à imigração e aos refugiados seguida pela Alemanha nas últimas décadas. O mesmo acontece com outras selecções europeias de países com muita imigração, como a de França.

Este líder da AFD, que durante 40 anos foi membro da CDU de Angela Merkel, mostrou ser um verdadeiro porta-voz dos receios dos simpatizantes do seu actual partido – reconhecidamente anti-imigração e islamofóbico, contra a política de portas abertas aos refugiados do Médio Oriente seguida pela chanceler no Verão passado (que entretanto mudou de tom). “Muitos temem que, aos nossos olhos, uma religião estrangeira não se adapte à nossa tradição ocidental”, afirmou ao jornal de Frankfurt, referindo-se ao islão. Mas no caso, Boateng é cristão, de forma bastante ostensiva – tem uma cruz tatuada no braço.

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Jérôme Boateng deve ser o capitão da selecção alemã no Euro 2016 Marcos Brindicci/REUTERS

Esta semana, o movimento anti-islão e anti-imigração Pegida – que está ligado ao AfD – já tinha provocado escândalo ao criticar no Facebook a campanha publicitária dos chocolates Kinder por colocar fotos de crianças negras ou com um aspecto mediterrânico, em vez dos rapazes louros do costume. “Isto é mesmo para comprar ou é só uma piada”, dizia o post. Um outro comentário dizia “Isto só pode ser uma falsificação?!???”

Tanta indignação, no entanto, não levava em conta que as crianças retratadas nas embalagens dos chocolates são jogadores da selecção alemã – quando eram crianças. No caso das imagens partilhadas no Facebook, tratava-se do jogador Ilkay Gündogan, de origem turca e, mais uma vez de Jérôme Boateng.

Estes avanços racistas contra a selecção por parte do AfD e do Pegida foram considerados “indignos e inaceitáveis” pelo ministro da Justiça, Heiko Maas. O presidente da Federação Alemã de Futebol, Alexander Grindel, mostrou-se revoltado: “É simplesmente de mau gosto abusar da popularidade de Boateng e da selecção nacional para fazer propaganda política.”

Perante o escândalo, o vice-presidente do AfD tentou corrigir as suas declarações, diz a AFP. Emitiu um comunicado em que diz ter querido transmitir apenas a “opinião de algumas pessoas”, e saúda “a integração bem-sucedida do sr. Boateng”, sublinhando o facto de ele ser de “confissão cristã.”

 

 

 

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