Pais de Charlie Gard aceitam desligar suporte de vida

Os britânicos Chris Gard e Connie Yates desistiram de procurar tratamento para o seu filho nos Estados Unidos e optam agora por não prolongar o sofrimento do bebé.

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Reuters/PETER NICHOLLS

Os pais de Charlie Gard, bebé britânico com uma doença terminal rara, deram por terminada a batalha legal travada nos últimos meses. Chris Gard e Connie Yates queriam que a justiça inglesa permitisse a viagem do seu filho para os Estados Unidos para testar um tratamento experimental. Agora, aceitaram desligar o sistema de apoio à vida que tem mantido o seu bebé a respirar, para não o fazer sofrer mais.

A decisão foi tomada após um médico norte-americano, especialista em doenças genéticas, ter visto o bebé e analisado os últimos exames que lhe foram feitos. O neurologista Michio Hirano, da Universidade de Columbia, em Nova Iorque, que antes pensava que o novo tratamento que tinha desenvolvido poderia ajudar Charlie Gard, acabou por concordar com os médicos do Hospital de Great Ormond Street, em Londres, onde está internado o bebé, que precisa até de ajuda de uma máquina para respirar: já é demasiado tarde para testar o novo tratamento, e tentar só iria causar sofrimento inútil a Charlie Gard.

Grant Armstrong, advogado da família, explicou ao Supremo Tribunal britânico que o “tempo se esgotou” para o bebé, e que tentar prosseguir com o tratamento já não é representa o melhor interesse de Charlie Gard. A doença genética com que nasceu, denominada síndrome de depleção do ADN mitocondrial, rara e incurável, causa fraqueza muscular progressiva e danos cerebrais irreversíveis. 

Charlie Gard nasceu prematuramente no dia 4 de Agosto de 2016. À sexta semana de vida, os pais levaram a criança novamente ao hospital depois de se terem apercebido de que o filho começara a perder peso e força muscular. 

Depois de o tribunal britânico ter negado a Chris Gard e a Connie Yeates, o pais do bebé de 11 meses, o pedido para levarem aos EUA o filho para um tratamento experimental, o Tribunal Europeu de Direitos Humanos tinha confirmado a sentença no passado mês de Junho, rejeitando o recurso dos pais de Charlie. 

"Todos os nossos esforços foram por Charlie, só queríamos dar-lhe uma hipótese de viver", disse Connie Yeates. "A única razão para a deterioração muscular de Charlie foi o tempo", afirmou, citada pelo Guardian. "Sabíamos que o tratamento podia resultar em Junho e o nosso pobre menino foi deixado no hospital sem tratamento enquanto se travavam batalhas no tribunal", afirmou a mãe, atacando os juízes e os tribunais, e confessando que a decisão de ter deixando o seu filho "ir" foi a mais difícil da sua vida. 

No exterior do Supremo Tribunal, um grupo de apoantes, que se auto-intiluam "O Exército de Charlie", gritava "Vergonha, juízes" e "vergonha GOSH" (a sigla, em inglês, do hospital onde o bebé esteve internado)

Chris Gard e Connie Yates tinham conseguido angariar 1,3 milhões de euros para o tratamento e o transporte da criança até aos Estados Unidos. Segundo o advogado da família, o dinheiro servirá agora para criar uma fundação para que “a voz de Charlie continue a ser ouvida”. Mesmo depois de morrer.

Depois de uma dura batalha legal que obrigou os pais do bebé de 11 meses a baixar os braços, também um hospital norte-americano se tinha oferecido para enviar um medicamento experimental para Inglaterra, na esperança de ajudar no tratamento da criança.

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