Os piores países do mundo para jovens são na África subsariana e dois falam português

Moçambique e Guiné-Bissau estão na lista dos países em que há menos perspectivas para as pessoas entre os 15 e os 29 anos. Em todo o mundo, as mulheres jovens têm menos oportunidades do que os homens.

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Rapaz trabalha nas lixeiras de Maputo. Moçambique está entre os dez mais mal classificados deste ranking que avalia 183 países AFP/GIANLUIGI GUERCIA

Hoje o mundo tem 1,8 mil milhões de jovens, vivendo a esmagadora maioria deles (87%) em países em vias de desenvolvimento. É na África subsariana que o crescimento desta população entre os 15 e os 29 anos é mais acelerado e é também aí que esta profusão de juventude se pode tornar mais um problema do que uma boa notícia, caso os serviços na educação e na saúde não melhorem, caso as oportunidades de emprego não se multipliquem. A conclusão é tirada pelo Secretariado da Commonwealth, que na sexta-feira publicou o seu Índice de Desenvolvimento da Juventude (YDI, na sigla em inglês).

Os dez piores países do mundo para se ser jovem são todos da África subsariana e entre eles estão dois que falam português, Moçambique e a Guiné-Bissau (Chade, Níger e Mali têm também territórios no deserto do Sara). De acordo com esta organização que promove os direitos humanos e o desenvolvimento nos 52 países que fazem parte da Commonwealth – quase todos antigos territórios do império britânico –, no topo da lista está a República Centro-Africana, seguida do Chade, Costa do Marfim, Níger, Guiné Equatorial, Guiné-Bissau, Moçambique, Zâmbia, República Democrática do Congo e Mali.

Este índice é feito com base em 18 indicadores que, combinados, ajudam a medir o progresso e o desenvolvimento jovem em 183 países. Deste lote de indicadores, que depois permitirão dar uma pontuação de 0 a 1 a cada país (o Índice de Desenvolvimento da Juventude, YDI) , pontuação que depois ditará o seu lugar no ranking, fazem parte a saúde e bem-estar, a educação, o emprego e a participação cívica e política (este registo segue o mesmo sistema do índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas).

E se é verdade que os números nalguns casos são expectáveis – a  República Centro-Africana (0.308 YDI), o país que tem uma pontuação mais baixa entre os 183 avaliados, está há três anos mergulhado numa guerra civil –, outros há que surpreendem, como a Costa do Marfim (o terceiro pior, com 0.357 YDI), que tem vindo a ser apresentada como uma das mais promissoras economias da África ocidental.

A Guiné-Bissau (0.389) e Moçambique (0.392) são, respectivamente, o sexto e o sétimo piores da lista.

Entre os países africanos que mais evoluíram positivamente neste índice nos últimos anos (2010-2015) estão a Maurícia, o Gana, a Libéria, as Seicheles e o Quénia. Este último é o país do mundo que neste período registou uma melhoria mais acentuada (22%), graças à subida em indicadores como a saúde e a participação cívica.

É precisamente no capítulo da participação política e cívica que África se tem destacado, como mostram os protestos nas ruas e os votos nas urnas. Mas isso não basta, disse à Reuters um dos autores deste relatório, Abhik Sen, já que estes aumentos “não levarão os jovens mais longe se não forem acompanhados de melhorias no acesso à saúde e à educação”.

No lado dos países em que o YDI é mais alto o primeiro lugar pertence à Alemanha (0.894 YDI). Na lista dos 20 melhores, Portugal surge na 9.ª posição, com uma pontuação de 0.816 YDI, à frente de países como o Japão, a Suécia, a Noruega o Canadá ou a França.

Neste momento, os jovens entre os 15 e os 29 anos representam quase um quarto da população mundial e em alguns países, sobretudo africanos e do Sul da Ásia, uma em cada três pessoas está dentro deste escalão etário.

De acordo com o comunicado de imprensa que enquadra o índice agora apresentado, as estimativas demográficas apontam para que, em 2075, a proporção de jovens na população mundial fique abaixo dos 20%.

“As próximas décadas são, por isso, uma janela de oportunidade sem precedentes para que o mundo, e os países em vias de desenvolvimento em particular, colha os frutos deste ‘dividendo demográfico’”, lê-se no mesmo documento.

Sem surpresas, o que este relatório também mostra é que, no geral, as perspectivas para as raparigas e jovens mulheres em todo o mundo são menores do que para os seus pares masculinos. Outras das conclusões gerais que podem incluir-se no saco das expectáveis é o facto de os países mais ricos e com menos jovens (menos 20% da população total) se portarem melhor no ranking.

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