Oposição síria diz que ONU deu tempo a Assad para continuar repressão

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Militares sírios enviados para um subúrbio de Damasco onde se registaram manifestações AFP

A oposição síria criticou a declaração aprovada terça-feira pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas – que exorta o regime e a dissidência a aplicar “total e imediatamente” o plano de Kofi Annan para a cessação dos combates –, por considerar que apenas serve para dar tempo ao Presidente Bashar al-Assad para “esmagar a revolução”.

“Estávamos à espera que o Conselho de Segurança falasse a uma só voz, não através de uma declaração, mas de uma resolução dissuasiva e firme que obrigasse o regime a parar a matança”, disse Samir Nachar, dirigente do Conselho Nacional Sírio, que reúne vários grupos e tendências da oposição síria.

O texto aprovado ontem não tem o carácter vinculativo de uma resolução – as duas tentativas para aprovar esbarraram no veto da China e da Rússia – e para ultrapassar as reticências de Moscovo não condena expressamente a repressão desencadeada por Damasco para calar a contestação ao Presidente que, segundo números da própria ONU, provocou perto de nove mil mortos, na sua grande maioria civis.

Em alternativa, a declaração manifesta o seu “total apoio” aos esforços de mediação de Annan, nomeado enviado especial da ONU e da Liga Árabe para a Síria, e pede às duas partes que negociem “de boa-fé” com vista à imediata aplicação do plano para a cessação dos combates, o envio de observadores para o terreno e a entrada de ajuda humanitária nas zonas mais atingidas pelos combates. Numa segunda fase, prevê-se o início de um diálogo com vista a uma transição política no país.

Apesar de o essencial da pressão se dirigir a Assad – a quem é pedido que pare de usar a artilharia contra zonas habitadas e inicie a retirada das suas forças das cidades –, a oposição afirma que nada na resolução força o regime a pôr fim à violência e que, à falta de uma acção internacional convicta, o conflito tenderá a agravar-se. “Os massacres do regime levam as pessoas a pegarem em armas para se defenderem e isso é legítimo. Mas isso levará à militarização e islamização do conflito”, avisou Nachar.

No terreno, e apesar do repto da ONU, o Exército mantém a ofensiva contra as cidades que se sublevaram, com informações de novos bombardeamentos contra Hama, na região Centro, e Idlib, no Norte.

Foi nesta zona que terá acontecido um dos mais sangrentos incidentes do dia. Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, organização que recolhe informações de activistas no terreno, dez civis, incluindo três crianças e duas mulheres, morreram quando o autocarro em que fugiam aos combates foi atingido por disparos do Exército.

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