ONU pede investigação independente à violência no Uzbequistão

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Relatos que chegam da cidade adiantam que o Exército terá disparado indiscriminadamente contra os manifestantes Anvar Ilyasov/AP

A alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos apelou hoje à realização de uma investigação independente aos relatos de violência que desde a semana passada chegam do Leste do Uzbequistão.

Num comunicado emitido hoje em Genebra, Louise Arbour, manifesta-se “profundamente preocupada com os recentes actos de violência e a perda de vidas humanas em Andijan”, uma cidade no Leste do Uzbequistão, palco na semana passada de uma revolta popular, duramente reprimida pelo Exército.

A responsável pede, por isso, “a abertura de um inquérito independente às causas e às circunstâncias dos incidentes” na região, de onde chegam relatos “de uso excessivo da força” por parte das autoridades locais. O apelo da responsável obteve eco imediato junto do ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Jack Straw, para quem só a realização de um inquérito independente poderá evitar a temida desestabilização da região.

A alta comissária apela ainda às autoridades que “garantam os direitos que o Uzbequistão prometeu cumprir ao abrigo da lei internacional, incluindo as liberdades de expressão e reunião”.

Da mesma forma, Louise Arbour manifestou-se preocupada "com as restrições impostas pelo Governo aos meios de comunicação nacionais e estrangeiros" que tentam cobrir a situação no país.

A revolta, que começou com o assalto a uma prisão de alta segurança de Andijan (Leste do país), em protesto contra as perseguições judiciais a empresários locais, acusados de ligações aos movimentos fundamentalistas islâmicas, rapidamente se transformou num protesto generalizado contra o Governo do Presidente Islam Karimov.

Os revoltosos conseguiram apoderar-se da sede da administração regional de Andijan (uma cidade situada a curta distância da fronteira com o Quirguízia e o Tajiquistão), mas o Exército reprimiu os protestos, reassumindo o controlo da cidade. Relatos feitos por testemunhas adiantam que os militares dispararam indiscriminadamente contra os civis que saíram às ruas em apoio aos revoltosos. Segundo os movimentos próximos dos revoltosos e das organizações de defesa dos direitos humanos, mais de 700 pessoas (entre revoltosos e civis) terão sido mortos pelo Exército. Contudo, o Governo uzbeque confirma apenas 169 mortes, atribuindo-as aos rebeldes islamistas.

A cidade foi entretanto bloqueada e foram poucos os jornalistas que conseguiram entrar na cidade para confirmar os relatos. Hoje o Governo uzbeque levou vários diplomatas e repórteres até à cidade, mas o grupo esteve sempre acompanhado por um forte dispositivo militar.

Entretanto, a revolta terá alastrado a outras cidade do Leste do Uzbequistão, uma zona onde os movimentos integristas recolhem cada vez mais apoiantes, levando as autoridades dos países vizinhos a temer uma desestabilização de toda a Ásia Central.

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