Odebrecht vai cooperar com Lava-Jato, políticos brasileiros em alerta

Empresa que pagava subornos a partidos para obter contratos anunciou que passará a colaborar com a Justiça.

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A Odebrecht Paulo Whitaker/REUTERS

O grupo Odebrecht, a empresa de construção no centro da maior investigação de sempre sobre corrupção no Brasil, vai começar a cooperar com os investigadores da Lava-Jato. Considerando que os procuradores já descobriram que a empresa tinha um departamento especializado no financiamento eleitoral – ilegal –, este acordo pode vir a ter sérias consequências para todo o sistema político brasileiro.

O colunista do jornal Folha de São Paulo Clóvis Rossi chama-lhe mesmo “a delação do fim do mundo”. As denúncias feitas ao abrigo de um estatuto semelhante ao de arrependido, em troca de reduções na pena, podem ser devastadores para o Governo de Dilma Rousseff, para Lula da Silva e para os deputados que integram a comissão encarreg de decidir se há bases legais para haver um julgamento de destituição da Presidente. “O que de facto configura um cenário de fim de mundo”, conclui Rossi.

Esta é uma mudança radical de posição da Odebrecht, cujo ex-patrão, Marcelo Odebrecht, foi já condenado este mês a 19 anos de prisão por práticas de corrupção e lavagem de dinheiro.

O anúncio da cooperação surgiu depois de novas buscas e detenções na terça-feira na Odebrecht. Os investigadores descobriram um departamento encarregue da prática sistemática de corrupção, através do pagamento de subornos para lhe serem atribuídas empreitadas de construção de estádios da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos, que começam a 5 de Agosto. A Odebrecht esteve envolvida na obra de pelo menos quatro dos 12 estádios da Copa, incluindo o Arena Corinthians, um projecto de mil milhões de reais (cerca de 249 milhões de euros).

A polícia está ainda a verificar o pagamento de subornos na obra de Porto Maravilha, a regeneração zona portuária do Rio de Janeiro, que o Governo tem classificado como uma das grandes heranças que os Jogos Olímpicos vão deixar.

A investigação entrou agora numa fase internacional, levando os procuradores em busca de fraudes e subornos nos contratos da empresa em países como Angola e Argentina. Esta semana, foi feita uma detenção em Portugal.

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