Obama visita mesquita americana pela primeira vez e condena "retórica indesculpável"

"Vocês não são americanos ou muçulmanos; vocês são americanos e muçulmanos", disse o Presidente dos EUA na Sociedade Islâmica de Baltimore.

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O Presidente dos EUA também foi criticado por não ter visitado uma mesquita há mais tempo Jonathan Ernst/Reuters

Ao fim de quase sete anos, os inúmeros convites públicos e apelos em privado dos líderes da comunidade muçulmana nos Estados Unidos foram finalmente recompensados esta quarta-feira – pela primeira vez desde que chegou à Casa Branca, a 20 de Janeiro de 2009, o Presidente Barack Obama visitou uma mesquita americana.

O palco escolhido por Obama foi a Sociedade Islâmica de Baltimore, no estado do Maryland, a poucas dezenas de quilómetros da residência oficial do Presidente. Mas a mensagem destinou-se a todos os cantos do país – no auge de uma corrida à Casa Branca em que muitos candidatos do Partido Republicano têm tentado superar-se uns aos outros com propostas cada vez mais radicais, Barack Obama tentou tranquilizar os muçulmanos norte-americanos, que se queixam de estarem a ser alvo de uma vaga de discriminação semelhante à que varreu o país após os atentados terroristas de 11 de Setembro de 2001.

"Temos assistido a uma retórica indesculpável contra os muçulmanos americanos, comentários que não têm lugar no nosso país. Não podemos ficar surpreendidos com o aumento das ameaças", disse Obama, referindo-se, sem nomear, a alguns dos candidatos do Partido Republicano à Casa Branca, como Donald Trump ou Ben Carson.

Juntamente com as críticas  "Não podemos ser testemunhas passivas da intolerância" –, o Presidente dos EUA deixou também palavras de apreço e agradecimento à comunidade muçulmana, dirigindo-se em particular aos mais jovens: "Vocês não são americanos ou muçulmanos; vocês são americanos e muçulmanos. Não cedam ao cinismo."

Num país em que 29% dos inquiridos numa sondagem da CNN acreditam que Barack Obama é um muçulmano disfarçado de cristão (um valor que sobe para 43% entre os eleitores do Partido Republicano), o Presidente norte-americano esperou pela fase final do seu segundo e último mandato para entrar numa mesquita no seu país, apesar de já o ter feito em visitas oficiais ao estrangeiro.

A visita surge num momento em que candidatos à Casa Branca como Donald Trump, Ted Cruz ou Ben Carson têm defendido propostas polémicas, principalmente depois dos atentados terroristas em Paris, em Novembro do ano passado, e do ataque terrorista em San Bernardino, um mês depois. No total, os ataques fizeram 144 mortos, e foram cometidos por pessoas que prestaram fidelidade ao grupo extremista Estado Islâmico.

Logo a seguir aos ataques em Paris e em San Bernardino, Donald Trump defendeu a proibição da entrada nos Estados Unidos a todos os muçulmanos – imigrantes ou turistas; Chris Christie afirmou que não deixaria entrar no país "nenhum refugiado sírio, nem mesmo um órfão com menos de cinco anos"; Marco Rubio disse que proibiria a entrada de muçulmanos "vindos daquela parte do mundo"; e até um dos mais moderados, Jeb Bush, disse que só deixaria entrar no país refugiados sírios cristãos.

Em contraste com o tom da actual campanha presidencial nos EUA entre os candidatos do Partido Republicano, o ex-Presidente George W. Bush visitou uma mesquita seis dias após os ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001, que fizeram quase 3000 mortos e lançaram o país em duas guerras na década seguinte, no Afeganistão e no Iraque.

"A face do terror não é o verdadeiro islão. Não é isso que o islão significa. O islão é paz. Estes terroristas não representam a paz – representam o mal e a guerra", declarou George W. Bush no Centro Islâmico da capital federal dos EUA, no mesmo discurso em que abordou a onda de ameaças e ataques contra muçulmanos que começou logo após os atentados terroristas: "As mulheres que tapam as suas cabeças neste país devem sentir-se confortáveis quando saem de casa. As mães que usam o véu não devem sentir-se intimidadas na América. Essa não é a América que eu conheço. Não é a América que eu valorizo."

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