Obama: Trump? Nem num supermercado, quanto mais na Casa Branca

O actual Presidente dos EUA condenou publicamente as declarações de Donald Trump sobre a forma abusiva como aborda as mulheres e questiona o apoio do Partido Republicano ao candidato.

Foto
Trump continua a perder apoio dos membros do Partido Republicano Reuters/MIKE SEGAR

Um em cada cinco republicanos considera que os comentários de Trump sobre as mulheres, revelados na última sexta-feira pelo Washington Post num vídeo gravado em 2005 desqualificam o candidato para a função de Presidente dos EUA. Nos últimos dias, a par da sua queda em algumas sondagens, Trump também está a perder o apoio do Partido Republicano – e a tweetar sobre isso.

Esta terça-feira, a reprovação veio directamente da Casa Branca, pela voz do actual Presidente dos Estados Unidos. "Não precisamos de ser maridos ou pais para ouvir o que ouvimos, há uns dias, e dizer que não está certo. Só precisamos de ser um ser humano decente para saber que [o que Trump disse] está errado", asseverou Barack Obama, durante uma conferência no estado da Carolina do Norte. 

Barack Obama foi ainda mais longe e disse que a postura de Trump não seria tolerável sequer para se candidatar a um trabalho na 7-Eleven, uma cadeia norte-americana de supermercados, muito menos a Presidente, cita o jornal The Guardian.

Uma nota também já assinalada no programa The Daily Night Show, com Trevor Noah a lembrar que as declarações de Trump deviam ofender qualquer ser humano e não apenas os que defendem os direitos das mulheres. O apresentador lembrou que não se tratam de declarações sexistas, mas de abuso sexual.

O Presidente dos EUA criticou ainda os membros do Partido Republicano que condenaram os comentários de Trump, mas continuaram a apoiar a sua candidatura, como é o caso de Reince Priebus, que dirige o Comité Nacional Republicano, órgão que coordena o partido e promove o financiamento da campanha. "Não faz sentido. Não podemos ter os dois lados. Não se pode denunciar repetidamente o que alguém afirma e depois dizer que se vai continuar a apoiá-lo para ser a pessoa mais poderosa do planeta."

No domingo, num debate onde Trump prometeu colocar Hillary na prisão – o que lhe valeu uma comparação a um ditador africano – e recorreu ao passado de Bill Clinton para relativizar as suas declarações sobre mulheres, o candidato republicano deveria ter aproveitado para reconquistar a confiança dos seus apoiantes. Contudo, não é isso que dizem as sondagens: questionados sobre a sua escolha para a sucessão de Obama, 45% dos norte-americanos responderam Hillary Clinton, enquanto 37% optaram por Donald Trump. Os restantes 18% responderam que não apoiam nenhum dos candidatos.

Hillary aumenta distância

A sondagem foi feita depois do segundo debate presidencial, onde Trump tentou justificar e desvalorizar os seus comentários, afirmando que se tratava de "conversa de balneário". No entanto, as explicações parecem não ter convencido os republicanos e eleitores norte-americanos, e uma nova sondagem da Reuters/Ipsos divulgada esta terça-feira dá à candidata democrata Hillary Clinton oito pontos de avanço face a Trump. Uma subida de três pontos no espaço de uma semana.

Os números mostram que 53% dos norte-americanos consideram que Clinton esteve melhor, contra 37% dos inquiridos a elogiarem Trump. Os números coincidem com a sondagem da CNN, recolhida imediatamente no final do debate de domingo.

Já entre os apoiantes dos partidos, os democratas foram os que mais ficaram convencidos pela prestação da sua representante: 82% dos democratas acreditam que Hillary foi a vencedora, enquanto apenas 68% dos republicanos sentiram que o seu candidato venceu o debate.

Números mais detalhados sobre as declarações machistas e abusivas de Trump mostram que 61% dos inquiridos consideram que "muitos homens" ocasionalmente têm conversas semelhantes e 46% acreditam que é "injusto" julgar alguém com base "numa conversa que não era suposto ser ouvida por mais ninguém".

Apesar de a maioria achar Trump sexista, na altura de o avaliar como adequado para ser Presidente, as pessoas ficaram divididas: 42% consideram que Trump não reúne as condições necessárias, mas 43% acreditam que os seus comentários não o desqualificam para o cargo de Presidente dos EUA.

Entre os republicanos, 58% defendem que deve ser Trump a liderar a corrida presidencial e 68% reforçam a ideia de que o Partido Republicano deve continuar a apoiar o candidato.

"O que é que esperam? Que ele se transforme? Eu tenho 55 anos e já é difícil mudar. Sei que aos 70 vai ser mais difícil", analisou Obama.

Também no universo feminino o vídeo parece não ter piorado a imagem de Trump, mas porque esta não era já positiva. Cerca de 44% das mulheres apoiam Clinton, contra 29% que defendem Trump.

A maior mudança chega do grupo de norte-americanos evangélicos, que normalmente se aliam à ala conservadora do Partido Republicano e que em Julho davam a Trump uma vantagem de 12 pontos. Nesta última sondagem a vantagem desceu para apenas um ponto.

Trump troca data das eleições

De um candidato do qual já se espera tudo, espera-se também que saiba a data das eleições. Mas a menos de um mês, Trump confundiu a data e apelou aos seus apoiantes a que fossem votar no dia 28 de Novembro. As eleições para a Casa Branca acontecem 20 dias antes.

Nas redes sociais há quem, jocosamente, peça aos apoiantes de Trump para não acreditar na "comunicação social mentirosa" – uma das frases mais repetidas por Donald Trump – e apontarem nas agendas a data de 28 de Novembro, numa tentativa de desmobilização dos apoiantes do candidato republicano na ida às urnas no dia 8 de Novembro. 

Também o alto-comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad Al Hussein, chumba a candidatura de Trump e diz que a sua eleição seria “perigosa” no panorama internacional. Ra'ad Al Hussein sublinhou que não é seu hábito interferir em campanhas políticas, mas à luz dos comentários “perturbadores” de Donald Trump, o alto-comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos sentiu a necessidade de se manifestar.

“Se Donald Trump for eleito, nós já vimos do que ele é capaz e a menos que ele mude, acredito que será perigoso a uma perspectiva internacional”, reiterou.

Ra'ad Al Hussein lembrou a intenção do candidato de recuperar a tortura como técnica de interrogação e recordou os seus comentários acerca de “comunidades vulneráveis”, como a comunidade muçulmana, imigrantes e minorias, “sugerindo que podiam ser privados dos seus direitos fundamentais”.

Sugerir correcção
Ler 5 comentários