O ocaso do chavismo em câmara lenta

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Na Venezuela, a contestação contra a política do Presidente Nicolás Maduro e a vertiginosa degradação da economia do país funciona por ciclos. A onda de protestos iniciada em 12 de Fevereiro fez até agora 42 mortos e 800 feridos. Na primeira linha, estão os estudantes.

As imagens da repressão contra manifestantes desarmados são chocantes. A Human Rights Watch acaba de publicar um relatório minucioso da violência policial. José Manuel Vivanco, director da Divisão Américas da HRW, declarou que não se trata de incidentes isolados: “Estas acções inscrevem-se no quadro de uma tendência alarmante que reflecte a pior situação dos direitos humanos observada na Venezuela desde há anos.”

A censura atingiu níveis também alarmantes. Uma jovem jornalista, Arianne Alcorta, colocou no YouTube um documentário com dezenas de vídeos — Venezuela Fights for Freedom — que já teve 350 mil consultas. Explica: “A falta de liberdade de imprensa fez com que os cidadãos se convertessem em repórteres de rua. De repente, chega-me um vídeo, envio-o aos meus contactos e milhares de pessoas fazem o mesmo.”

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Um jovem opositor desafia a polícia durante uma manifestação contra o Presidente Nicolás Maduro em Caracas, na segunda-feira Carlos Garcia Rawlins/Reuters

Muito mudou na Venezuela desde a “revolução bolivariana” de Hugo Chávez. Nos primeiros anos, assistiu-se a um confronto entre “duas Venezuelas”: de um lado, a burguesia e os sindicatos, que fizeram uma greve geral de meses; do outro, os “excluídos”, os pobres dos barrios que Chávez fez entrar na cena política e em que se apoiou. Com o tempo muito mudou. Escreve o analista venezuelano Moisés Naím: “Hoje em dia, o principal conflito na Venezuela não é entre os que promovem o socialismo e os que acreditam no capitalismo, entre ricos e pobres ou entre simpatizantes e adversários dos Estados Unidos. É entre os que defendem um governo que fez da violação dos direitos humanos uma política de Estado e os que estão decididos a sacrificarem-se para o impedir.”

Entretanto, a economia degrada-se aceleradamente, faltam bens de consumo essenciais, a inflação está na casa dos 60%. Em compensação, explodiu a criminalidade: 25 mil homicídios em 2013. Os mais atingidos são sempre os pobres. As pessoas não compreendem: a Venezuela tem as maiores reservas petrolíferas do mundo. “Maduro está a matar a Venezuela”, resume Naím.

Nas eleições de 2013, que Maduro venceu tangencialmente, os país estava partido ao meio. Hoje, a incompetência do Presidente vale-lhe a desaprovação de 60% da população. Maduro não tem a força nem o carisma de Chávez e o regime “bolivariano” caminha para o ocaso — em câmara lenta. Há um sinal eloquente. Cuba depende do petróleo venezuelano. Dizem analistas que Raúl Castro já tem um “plano B” para o caso de “mudança de regime” em Caracas.

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