O mundo não confia em Trump, sobretudo a Europa Ocidental

A imagem dos Estados Unidos no mundo piorou desde que Donald Trump chegou à Casa Branc, diz sondagem Pew. Apenas Rússia e Israel têm uma boa imagem do Presidente dos EUA.

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Donald Trump merece a desconfiança generalizada de cidadãos de outros países Reuters/CARLOS BARRIA

De uma forma geral, o mundo não confia no Presidente norte-americano, Donald Trump, e isso reflecte-se numa queda da imagem dos Estados Unidos aos olhos dos cidadãos de outros países. E são sobretudo os aliados europeus dos EUA que mostram maior desconfiança em relação a Trump. Apesar das objecções, a maioria não acredita que as relações com os EUA sofram alterações significativas.

A opinião em relação ao Presidente norte-americano degradou-se em praticamente todos os 37 países participantes no estudo do Instituto Pew – Portugal não foi incluído – quando comparada com a confiança depositada no seu antecessor, Barack Obama, no final do seu mandato. Em média, Obama recolhia uma aprovação de 64%. A actuação de Trump, pelo contrário, recebe a desaprovação de 74% dos 40 mil inquiridos entre Fevereiro e Maio.

A reputação de Trump no mundo é mesmo pior do que a de líderes autoritários como o Presidente russo, Vladimir Putin (59% não confiam), ou o chinês Xi Jinping (53%).

Apenas dois países fogem à regra: Israel e Rússia. As relações entre os EUA e Israel degradaram-se durante os mandatos de Obama, especialmente por causa do acordo sobre o nuclear alcançado com o Irão e a condenação da Casa Branca em relação à expansão dos colonatos. Com Trump, a percepção é de que as políticas norte-americanas irão estar mais alinhadas com Telavive – como por exemplo a promessa de Trump de mudar a embaixada norte-americana para Jerusalém.

A boa imagem dos russos em relação a Trump deverá estar relacionada com a intenção manifestada pelo líder norte-americano em reatar boas relações com a Rússia. A confiança dada a Obama tinha caído a pique na sequência da crise na Ucrânia em 2014 e da aplicação de sanções económicas contra Moscovo após a anexação da Crimeia.

Mas é entre os aliados dos EUA que a confiança no Presidente é mais escassa, com consequências para a imagem do país. Na Alemanha, por exemplo, a taxa de aprovação de Trump é de 11%, em França é de 14% e em Espanha não vai além dos 7%. Os autores do estudo comparam a opinião dominante em relação ao Presidente, entre os cidadãos da Europa Ocidental, à fase final do segundo mandato de George W. Bush, quando a condenação à invasão do Iraque estava ao rubro.

A imagem dos EUA também atingiu mínimos históricos entre os dois vizinhos, o Canadá e o México, embora se mantenha superior à taxa de confiança em Trump. Apenas 5% dos mexicanos dizem confiar no Presidente norte-americano (contra os 49% que confiavam em Obama) e 30% têm uma imagem positiva do vizinho a norte. A proposta de construção de um muro na fronteira entre os dois países e os constantes ataques de Trump aos imigrantes mexicanos são as grandes responsáveis pela queda da reputação norte-americana. No Canadá, pela primeira vez desde que o Pew faz estudos no país, a popularidade dos EUA está abaixo dos 50%.

Arrogante e intolerante

A falta de confiança no líder norte-americano parece, porém, ser sobretudo uma questão de carácter. A maioria dos inquiridos define Trump como alguém “arrogante” (75%), “intolerante” (65%) e “perigoso” (62%), embora o reconheçam como um “líder forte” (55%).

A política externa de Trump também merece desaprovação generalizada. Mais de três quartos mostram oposição à construção de um muro na fronteira com o México – número semelhante aos que estão contra a saída dos EUA dos acordos internacionais de comércio e de combate às alterações climáticas. A imposição de restrições à entrada de cidadãos muçulmanos nos EUA recebe a oposição de 62% e o abandono do acordo para travar o programa nuclear iraniano é desaprovada por 49%.

A desconfiança profunda em relação ao novo ocupante da Casa Branca não deixa muita margem para expectativas elevadas no que respeita às relações futuras com os EUA. Na Europa, por exemplo, apenas 8% dos inquiridos esperam uma melhoria no relacionamento dos seus países com Washington, embora mais de metade (51%) considere que tudo ficará na mesma.

O panorama negativo não parece, contudo, ter influenciado as atitudes globais a respeito de outros aspectos dos EUA. A maioria continua a ter uma imagem positiva dos cidadãos norte-americanos e da indústria de entretenimento, sob a forma de música, filmes e televisão. Já a apreciação do modelo democrático dos EUA é positiva por 43% dos inquiridos e apenas 38% considera bom a propagação das ideias e costumes norte-americanos nos seus próprios países.

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