O modo de vida ocidental é cada vez mais um alvo para o Daesh

As eleições de 8 de Junho realizar-se-ão ainda em estado de alerta máximo? Terroristas põem em causa valores democráticos.

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Militar e polícia britânico em Londres, junto ao Parlamento FACUNDO ARRIZABALAGA/EPA

Ainda não é de esperar que andem nas ruas com grandes metralhadoras de forma tão óbvia como em Paris ou Bruxelas, mas os primeiros 980 soldados dos perto de 4000 que serão mobilizados para proteger os cidadãos britânicos, uma vez declarado o estado de alerta máximo, estão já em acção, em resposta ao atentado de Manchester, que teve como alvo crianças e adolescentes. Foi um ataque contra o modo de vida ocidental, que a Al-Qaeda poderia hesitar em cometer. Mas  o Daesh, empenhado numa guerra sem tréguas com o Ocidente, que o faz perder terreno na Síria e no Iraque, não hesitou.

O Daesh quer cometer uma atrocidade terrorista “enorme e espectacular” no Reino Unido, e pode ter treinado paramilitares para fazer ataques, disse no início de Março Mark Rowley, especialista em contraterrorismo e comissário adjunto da Scotland Yard, citado pelo Guardian.

“Nos últimos meses, verificámos que há muitos mais planos para atacar alvos relativos ao estilo de vida ocidental. O foco deixou de ser apenas matar polícias e militares, como símbolos do Estado, para algo muito mais vasto”, disse Rowley, referindo-se ao que tem sido notado na vigilância do Daesh. “E vemos um grupo terrorista que tem grandes ambições para ataques espectaculares, não apenas os que conseguimos debelar até agora.”

Tudo isto acontece num período pré-eleitoral – os britânicos vão às urnas a 8 de Junho, numas legislativas antecipadas. O que levou alguns críticos a considerarem que havia aproveitamento eleitoral da primeira-ministra Theresa May ao declarar o estado de alerta máximo. “Ninguém quer que este estado marcial dure tanto que nos habituemos a ele, que se normalize, como talvez tenha acontecido em França. Especificamente, devemos esperar que não haja tropas nas ruas do Reino Unido a 8 de Junho. Isso seria como votar debaixo de um cerco”, escreveu Jonathan Freedland no Guardian.

“Nada agradaria mais ao Daesh do que ver as democracias ocidentais abraçarem a sua visão louca de uma guerra santa que oponha muçulmanos contra cristãos”, escreveu o New York Times em editorial, do outro lado do Atlântico.

A polícia britânica suspeita de que exista uma rede por trás do atentado de Manchester, e isso não seria estranho – Manchester, junto com Birmingham, onde vivia o autor do ataque contra o Parlamento de Londres, a 22 de Março, é um dos pontos quentes do radicalismo islâmico no Reino Unido, e também uma das cidades de maior diversidade cultural.

A ideia de que os atentados na Europa são cometidos por “lobos solitários”, incentivados através da Internet, está a ser abandonada, à medida que se compreende melhor o funcionamento das redes jihadistas. Por trás dos atentados que parecem cometidos por um homem sozinho, existe muitas vezes uma série de apoios – que lhe arranjam as armas, viaturas de fuga ou de atentado, e identificam os alvos.

É que, para além de ser um ataque contra o estilo de vida ocidental, diz o jornal de Nova Iorque, detecta-se uma vontade nos terroristas “de provocar uma sede de vingança e um desejo de segurança absoluta tão intenso que pode varrer até os valores democráticos mais preciosos e acabar com as sociedades mais inclusivas”.

Sinal da facilidade com que as coisas acontecem: a polémica editorialista do Daily Mail Kathie Hopkins, conhecida pelas declarações racistas, escreveu no Twitter que é necessária uma “solução final” contra o terrorismo. Depois apagou, alertada para a analogia nazi, e escreveu “verdadeira solução.”

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