O futuro do euro é o da Europa

Os líderes da Europa gostam da História com maiúscula. Têm razões para isso. Apesar do "Brexit" e outros acidentes de percurso, a União continua a ser uma ocorrência única na história que merece todo o destaque. Por isso mesmo, quando se quer celebrar a História, é fundamental transmitir a informação certa.

Agora que se vai fazer a Declaração de Roma, celebrando a Europa e os valores europeus, está montada a polémica sobre a inclusão ou não de uma referência ao euro. O tema é interessante pelo que revela sobre a visão que se tem do passado e do futuro da moeda única, mas está condicionado pela actualidade política.

Quem olhe friamente para o euro não hesita em ver nele uma das conquistas maiores da História recente do continente, a par, por exemplo, do programa Erasmus. Mas também não se pode deixar de entender as limitações que tem uma moeda única que não é acompanhada pela integração económica nem por compromissos financeiros e sociais de longo prazo. Como está, o euro é uma moeda com a sobrevivência ameaçada – com ele, estão as políticas de integração europeia e a própria ideia de União.

Assegurar o futuro do euro – e da União, convém reforçar – obriga a completar a União Bancária, a harmonizar leis fiscais e a aproximar regras laborais. Tudo políticas que implicam abdicação de soberania e que são por definição impopulares a nível da vida política dos países. Mas compete aos líderes explicar para que serve e porque é melhor isso que o contrário.

É certo que, com o euro, o crescimento tem sido anémico. Mas sem ele o recuo será abrupto e profundo. Podem os populistas, de cá e de lá, clamar pelos amanhãs que cantam de uma Europa sem euro, mas esse cenário é bacoco e não resiste a uma análise séria que passe os limites do calculismo político imediato. E é daí que vem a maior ameaça.

2017 está longe de ser o melhor ano para celebrações na velha Europa. Em Maio será escolhido novo Presidente em França e, se Marine Le Pen vencer, a primeira vítima será precisamente a moeda única. Em Outubro, é a própria Angela Merkel que vai a votos – e não convém mostrar empenho em mais integração nem em mais europeísmo, porque os opositores da globalização vão aproveitar-se disso. E como neste momento a Europa está acossada, os líderes preferem a prudência. Mas não existirá maneira de lhe fugir: quer se goste quer não, o euro é uma das mais importantes faces da União Europeia. E qualquer fragilidade da moeda única alastra rapidamente a toda a estrutura da União.

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