O fanfarrão idiota

Trump sente-se simultaneamente perseguido e protegido. Isto dá-lhe uma épica petulância. Ele vê-se como um salvador e uma vítima.

Tento não ouvir ou ler Donald Trump mas nem sempre consigo. Ele salta da Internet quando menos se espera. Um dos efeitos da polarização da opinião nos EUA é que há cada vez mais pessoas que são intensamente contra Trump ou intensamente a favor de Trump. Juntas, constituem uma imensa e histérica maioria.

Trump sente-se simultaneamente perseguido e protegido. Isto dá-lhe uma épica petulância. Ele vê-se como um salvador e uma vítima. A visão dele, já de si maniqueísta e redutora, vai-se simplificando incrivelmente. Há as forças do mal que são contra ele e que só querem destrui-lo e depois há ele, não tanto a representação das forças do bem como a própria incarnação delas.

Um dos melhores one-liners dos comediantes do Edinburgh Fringe é de Phil Nichol: "A lot of people say I'm egocentric - but enough about them". Acontece o mesmo com o narcisismo de Trump. É inesquecível a arrogância com que ele tranquilizou o mundo que os EUA "iam tomar conta da Coreia do Norte, como sempre tomam conta de tudo". Depois, percebeu-se que esta generosa ajuda consistia em pressionar a China para pôr a Coreia do Norte na ordem. Ameaçou-se a China e, milagre dos milagres, a China entrou na ordem. Inexplicavelmente, porém, a Coreia do Norte continuou a fazer ameaças. E isso é inaceitável. Porque os EUA são muito mais ricos e poderosos do que a Coreia do Norte. E é necessário estar sempre a chamar a atenção da Coreia do Norte para esta superioridade.

O que é que se há-de fazer? Ter paciência. 

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