O Brasil inspira

Quando penso num país perfeito, imagino que deveria conjugar os serviços, qualidade e bem-estar de alguns países do Norte da Europa e o sentido de vida, o culto do ar livre, o ritmo e a realização cultural de alguns outros do Sul.

Mas a perfeição não existe. O melhor que se pode fazer é viver com a imperfeição, compreendendo o que se nos depara na plenitude, seja potencialidades ou fragilidades. Por isso quando penso num país inspirador neste momento histórico conflituoso, o nome que me vem à mente é: Brasil.

Neste jornal, nas últimas semanas, têm sido revelados uma série de trabalhos que dão conta da realidade brasileira actual. Fica-se com a ideia que a idealização romântica – nomeadamente a partir de Portugal – que foi feita do país nos últimos anos já lá vai. Ou seja, existe hoje uma visão mais complexificadora, realista se quisermos, sobre o Brasil.

O que é bom. Como todos os países o Brasil tem imensos problemas. Mas nunca é por aí que se avalia o potencial de uma zona. É como esse país os enfrenta. É como os casais. Por conflitos todos passam. É preciso é ter-se consciência deles, saber pensá-los bem e superá-los de forma saudável.

É por isso que o Brasil é, hoje, tão inspirador. Há outros países com maior poderio militar. E com maiores índices de crescimento económico. Mais eficazes na distribuição da riqueza. Mais evoluídos técnica, tecnológica e cientificamente. E outros mais organizados e eficazes.

Mas nem tudo são necessidades quantitativas, tenham elas tradução em poder, valores materiais ou capacidade de consumir. Até porque como temos constatado nos últimos anos, quem tem mais dinheiro é quem deseja ter mais. Quem tem mais poder é quem deseja expandi-lo mais. Quem confunde consumo com felicidade é quem se equivoca mais.

Como é evidente riqueza ou poder são necessários. Mas é preciso um equilíbrio entre necessidades quantitativas e qualitativas – representadas no humanismo ou na riqueza das relações interpessoais. Como a maior parte dos países, também o Brasil se inspirou em modelos sociais europeus e americanos nas últimas décadas. Mas actualmente fica-se com a sensação que foi o Brasil que já chegou ao futuro, enquanto a maior parte dos outros ficou ainda no passado.

Para além dos recursos, possui características únicas, como a miscigenação e o sincretismo cultural, projectando como serão muitas das sociedades do futuro. Está rodeado por vários países e nunca se vislumbrou focos de conflito. Além disso valoriza a vida colectiva, a cultura, a musicalidade, a sensualidade e revela abertura ao novo e diferente.

Projecta esperança na forma como considera fluidas as fronteiras entre sagrado e profano, formal e informal, emocional e racional. E dir-me-ão, mas, e então, os conflitos recentes? Esse é precisamente um dos principais indicadores de que o todo da sociedade brasileira possui consciência sobre os desafios a enfrentar (corrupção, desigualdade, educação), sem perder de vista que é um país diferente, capaz de se alavancar, cada vez mais, para o exterior.

Ou seja, a maior parte dos valores que fazem falta aos outros, ditos mais amadurecidos. Talvez tivéssemos a ganhar se daqui a uns anos o modelo social que a maior parte dos países quisesse seguir, não fosse o americano, o alemão, o sueco, o canadiano, o japonês ou o chinês, mas o brasileiro. 

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