Novo partido quer lançar “renovação do centro-esquerda” em Itália

Desertores do PD acusam Renzi de fazer o jogo da direita. Primárias a 30 de Abril afastam cenário de legislativas em Junho.

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Gentiloni e Renzi na assembleia-geral do partido, há uma semana Remo Casilli/Reuters

Uma semana depois de Matteo Renzi se ter demitido da liderança do Partido Democrático para acelerar a realização de um congresso e de eleições primárias, os seus principais críticos já apresentaram aos italianos um novo movimento. O recém-fundado partido reivindica um grupo parlamentar de 50 deputados, mas ainda é cedo para perceber o impacto que terá nas legislativas, onde o principal rival do PD serão os populistas do Movimento 5 Estrelas.

O novo partido, Movimento Democrático e Progressista (DP), junta peso-pesados do PD com parte da Sinistra Italiana (SI, Esquerda Italiana), um partido com pouco mais de um ano, fruto de uma aliança do SEL (Esquerda, Ecologia e Liberdade) com o Futuro à Esquerda (este já uma cisão anterior do PD).

Entre os dirigentes da formação destacam-se Roberto Speranza, ex-líder parlamentar do PD, e Enrico Rossi, presidente da região da Toscânia; fundamentais nas manobras que levaram ao nascimento do partido foram ainda o antigo secretário-geral do PD Pierluigi Bersani e o ex-chefe de Governo Massimo D’Alema, dois acérrimos críticos de Renzi.

“Queremos construir um movimento aberto que marque o início da renovação do centro-esquerda”, afirma-se no manifesto do DP, onde se recorda a experiência da Oliveira, a coligação liderada por Romando Prodi que venceu as legislativas de 1996 e de 2006, derrotando então a direita de Silvio Berlusconi.

Ambições e arrogância

Recusando “renunciar a uma grande força unitária” desta área política, os fundadores do DP lançam um duro e claro ataque a Renzi, afirmando querer “reconstruir um centro-esquerda plural que não esteja sufocado pelas ambições do líder e pela pretensão arrogante de uma auto-suficiência que levará inevitavelmente os adversários à vitória”.

Renzi demitiu-se em Dezembro da chefia do Governo, depois de ver derrotada a sua reforma constitucional em referendo. O agora secretário-geral demissionário do PD chegou ao poder em 2013, saltando alguns passos no percurso habitual: perdeu as primárias para Bersani, antes das eleições gerais de 2013, e nunca foi eleito pelos italianos. Agora, quer precisamente ser confirmado em primárias, antes de se apresentar a votos ao país.

“Foram três os secretários-gerais do PD que se demitiram: [Walter] Veltroni [que se demitiu depois da derrota nas legislativas de 2008], Bersani [que saiu de cena quando se viu em minoria face aos apoiantes de Renzi] e Renzi”, recorda Speranza numa entrevista este domingo à televisão SkyTG24. “Nos dois primeiros casos, tratou-se de um gesto de enorme generosidade. A demissão de Renzi, pelo contrário, foi um acto de grande egoísmo”, acusa. Noutra entrevista, esta ao diário espanhol El País, Bersani descreve Renzi como “um populista de baixa intensidade”.

Para além de considerarem que Renzi coloca os seus próprios interesses à frente dos do partido, que dizem ter querido reduzir a si próprio, os críticos do ex-primeiro-ministro acusam-no de ter abandonado as políticas de esquerda do seu programa, aproximando-se das posições da direita. “Estamos aqui porque temos um adversário – a direita e o seu braço populista [o M5S] – e estes só podem ser derrotados pela esquerda”, afirmou Rossi, o dirigente toscano, na apresentação do novo partido.

PD em primeiro

Uma primeira sondagem onde se pergunta aos italianos sobre o seu apoio a uma cisão do PD – já anunciada mas não concretizada quando o inquérito foi feito –, atribui apenas 3,2% dos votos à nova formação, que Speranza diz representar 50 deputados no Parlamento de 315.

Segundo os resultados do estudo do instituto SWG para o jornal La Stampa, o PD mantém-se como principal partido, com 28%, à frente do Movimento 5 Estrelas, o movimento anti-sistema de Beppe Grillo, que surge com 25,3%. Mas os especialistas antecipam que o novo partido chegará pelo menos aos 8% e admitem que abra caminho a uma vitória do 5 Estrelas.

Os membros do novo DP defendem que o actual governo em funções, liderado por Paolo Gentiloni, deve continuar à frente dos destinos do país até 2018, altura em que terminará a legislatura. Os apoiantes de Renzi chegaram a defender a realização de legislativas em Junho, mas o calendário interno do partido afasta agora esse cenário. As primárias onde Renzi espera ser aclamado acabam de ser marcadas para 30 de Abril (a segunda volta, se necessária, será a 7 de Maio), o que impede, na prática, que os italianos sejam chamados às urnas antes de Setembro.

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