No Brasil, sem limites para a desvergonha

No ano dos Olímpicos, disputa-se o perigoso jogo dos sem-vergonha. E ninguém se esquiva à competição.

Uns clamam “corruptos”, outros gritam “golpistas”. Mas ninguém age de forma inatacável no indecoroso circo que se apossou da vida política e institucional brasileira. Da Presidente aos juízes, tudo parece contaminado por um desnorte geral. A nomeação de Lula como ministro, nomeação essa que um juiz suspendeu, não pode ter outra justificação que não seja protegê-lo do juiz que ele não quer enfrentar ou de uma eventual ordem de prisão. Ninguém acredita que Dilma se tenha lembrado que lhe faltava um ministro no governo e que Lula era precisamente o indicado. Se ela acusa de golpistas os que querem derrubá-la, as armas que usa são idênticas. Esta nomeação era, sem qualquer máscara, um golpe. E na trincheira adversa, quem encontramos? Um juiz que, apoiante de Aécio Neves (adversário de Dilma nas eleições presidenciais), publica no seu Facebook mensagens a dizer “ajude a derrubar Dilma”; um outro juiz que divulga escutas telefónicas (entre Dilma e Lula) feitas duas horas depois de ele as ter mandado cancelar; e, por fim, um presidente da Câmara de Deputados que quer acelerar a impugnação de Dilma mas é ele mesmo arguido na Operação Lava-Jato. Haverá solução para isto? Uma solução que não passe pela desvergonha colectiva que, a pretexto da defesa das respectivas trincheiras políticas, está a dar do Brasil uma imagem inclassificável? Neste momento, sem tino nem nexo, todos parecem competir para ultrapassar o adversário (às vezes até o parceiro) em velhacarias. A radicalização dos respectivos apoiantes, nas ruas, é uma manobra perigosa que pode descambar em violência e numa espiral incontrolável de rancores. O Brasil que hoje se divide é o mesmo que se dividiu nas presidenciais, onde Dilma ganhou a Aécio. Mas esse Brasil, que agia com bom senso, vê-se agora toldado por mentiras cruzadas de gente pouco recomendável. Vai ser preciso sangue-frio para evitar o precipício.

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