Não, estas mulheres não foram agredidas por um muçulmano (nem o caso aconteceu em Espanha)

Tal como o caso da jovem muçulmana de Westminster, esta é mais uma história viral, posta a circular por apoiantes de movimentos racistas, que se conclui ser falsa.

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Um homem sentado num corredor de um centro de saúde a ouvir uma mulher, aparentemente uma médica. O primeiro levanta-se, começa a discutir exaltado com a mulher de bata branca e estetoscópio e depois agride-a violentamente. Passados alguns segundos surge o que parece ser uma enfermeira que tenta separar o agressor, mas também é vítima de agressões. Este é o incidente que um vídeo, que foi amplamente partilhado na internet em Espanha, e não só, mostra. As primeiras partilhas foram acompanhadas com a seguinte frase: “Muçulmano a agradecer o seu acolhimento em Espanha num centro da saúde espanhol. Imagens que a TVE não difunde para não caírem em alarme social”. O problema é que tudo se passou na Rússia e o incidente nada tem a ver com muçulmanos ou com o acolhimento de imigrantes ou refugiados - a culpa é do álcool. 

Segundo conta o El País, as imagens foram partilhadas pela conta de Facebook de Juan Manul González no passado dia 25 de Março, sem explicar como obteve o vídeo e escrevendo apenas a frase acima citada. No som, é possível escutar os gritos do homem, que não são feitos nem em espanhol nem em árabe, mas sim em russo. Assim é, porque as agressões ocorreram na cidade russa de Novgorod e foram protagonizados por um homem embriagado. E no entanto, segundo o diário espanhol, o vídeo contou com quase três milhões de visitas, dando força a discursos xenófobos e islamofóbicos nas redes sociais.

As imagens originais tinham chegado à Internet pelas mãos de Rustem Adagamov, um conhecido blogger russo, no dia 24 de Fevereiro, que explica que um homem embriagado agrediu violentamente um guarda e duas enfermeiras, provocando uma concussão cerebral e uma fractura craniana nas vítimas. Estas informações foram recolhidas originalmente pelo MedRussia, um órgão especializado nas questões da saúde neste país.

Também na sequência dos ataques em Londres, na passada quarta-feira, uma fotografia provocou discussão nas redes sociais. Na imagem, uma mulher, envergando um hijab, passava por vítimas deitadas no chão enquanto utilizava o telefone. Na Internet, muitos acusaram-na de indiferença em relação às pessoas feridas que a rodeavam e, a partir daí, surgiram os insultos aos muçulmanos. No entanto, a protagonista falou à organização Tell Mama para explicar que não sentia indiferença perante as vítimas, mas sim que estava "arrasada" por ter testemunhado o atentado, e que contactava naquele momento a família para dizer que estava em segurança. A testemunha do ataque terrorista chegou mesmo a oferecer ajuda às vítimas na Ponte de Westminster, ao contrário do que sugeriram apoiantes de movimentos xenófobos na internet. Se uma imagem pode valer por mil palavras, estas nem sempre são dispensáveis. 

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