Mulher escrava vai ser a nova cara nas notas de 20 dólares

Harriet Tubman, uma mulher negra e abolicionista, vai substituir o Presidente esclavagista Andrew Jackson.

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Harriet Tubman numa fotografia tirada entre 1860 e 1870 H.B. Lindsley/ Library of Congress
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Montagem da organização Women on 20's

Um Presidente esclavagista vai ser substituído por uma escrava nas notas de 20 dólares. Será o primeiro rosto afro-americano – e a primeira mulher num século – a figurar nas notas em circulação nos Estados Unidos. Esta é a mudança “mais simbólica” dos últimos 100 anos da moeda americana, classificou o New York Times.

O anúncio foi feito na quarta-feira pelo Departamento do Tesouro: Harriet Tubman, que nasceu como escrava no início da década de 1820 e ajudou à libertação de centenas de escravos, ocupará o lugar central da nota, e o Presidente Andrew Jackson passará para as costas.

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Montagem da organização Women on 20's DR

Em Junho do ano passado, o Tesouro anunciou que iria fazer uma troca nas notas de 10 dólares, com a intenção de trazer uma mulher para o lugar que estava a ser ocupado por Alexander Hamilton (1789-1795) – o primeiro secretário do Tesouro, cuja vida inspirou um espectáculo da Broadway, Hamilton, que venceu esta semana um Pulitzer. Face à polémica gerada, optou-se por fazer a mudança nas notas de 20, tirando o lugar de destaque a Jackson, um herói da guerra de 1812 contra o Reino Unido, também célebre por ter expulsado índios das suas terras e deter escravos (e que se opôs a um sistema bancário nacional).

A última mulher a ter o seu rosto numa nota americana foi Martha Washington, numa nota de 1 dólar, no final do século XIX (a índia Pocahontas apareceu numa nota de 20 ao lado de várias personalidades entre 1865 e 1869).

A escolha de Tubman resultou de um inquérito que obteve “milhões de respostas”, segundo o responsável do Tesouro, Jack Lew, e é uma “oportunidade para alargar a reflexão sobre a história americana”. Entre as finalistas estavam a ex-primeira-dama Eleanor Roosevelt e a militante anti-segregação racial Rosa Parks. Para o NYT, a escolha terá “captado um momento histórico de um país multicultural, multiétnico e multi-racial que entrou controversamente nos primeiros anos deste novo século”.

Nascida no Maryland (no Leste do país), Tubman ficou conhecida como uma mulher de coragem. Trabalhou nos campos até conseguir fugir, tinha vinte e muitos anos. Depois, ajudou outros escravos a fazer o mesmo, fazendo-os passar pelo Canadá. Isto ainda antes da guerra da Secessão (1861-65), na qual se alistou e participou como cozinheira, enfermeira e depois espia, ao lado das forças unionistas, refere a AFP. Mais tarde, combateu pelo direito de voto das mulheres. “Até ao meu último fôlego, combaterei pela liberdade”, afirmou. Viveu até aos 91 anos.

O Washington Post lançava a interrogação sobre a forma como Tubman será representada nas notas que começarão a circular só na próxima década: “A iconografia do imaginário Tubman assenta geralmente em duas categorias: a mais conhecida, e talvez mais amada, apresenta-a como uma senhora de idade, depois da guerra, vestida a primor e por vezes com um turbante na cabeça. Mas se Tubman podia parecer uma avozinha, também era uma mulher ferozmente corajosa e determinada, e ocasionalmente era representada como tal”. Foi o caso de um livro publicado sobre ela em finais do século XIX, onde aparece com uma arma na mão e uma sacola ao ombro.

 

 

 

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