Míssil ou foguetão, a diferença não é muita

Falta informação detalhada sobre o que é que a Coreia do Norte lançou para o espaço.

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O foguetão lançado esta madrugada, numa foto divulgada pela agência noticiosa oficial da Coreia do Norte KCNA/AFP

O que é que a Coreia do Norte lançou?

Para os Estados Unidos, trata-se de “um míssil”, a palavra usada pelo Departamento de Estado e pelo Comando Estratégico dos EUA para definir o que foi lançado pela Coreia do Norte, enquanto Pyongyang fala num “foguetão”. O que este desencontro de palavras esconde é que entre um míssil balístico intercontinental e um foguetão, como o usado para pôr satélites em órbita, a diferença não é muita.

O Sputnik, o primeiro satélite artificial, foi posto em órbita pela União Soviética a 4 de Outubro de 1957 por um míssil balístico intercontinental (ICBM, na sigla em inglês) modificado R7, e durante muitos anos os soviéticos não se preocuparam em desenvolver um foguetão específico para missões espaciais. Aliás, a mensagem que se queria fazer passar era exactamente essa: os lançadores que põem em órbita satélites como o Sputnik, cujos “bips” podiam ser ouvidos por todos os rádios amadores do mundo, também podiam fazer cair a bomba de hidrogénio soviética – alcançada em 1953 – até qualquer cidade do mundo.

Os foguetões chineses ainda são muito parecidos com ICBM e todos os mísseis balísticos intercontinentais desenvolvidos nos EUA foram adaptados para lançar satélites, diz um relatório do site 38 North, sobre a Coreia do Norte, do Instituto EUA-Coreia da Universidade Johns Hopkins.

Que veículo foi lançado?

Falta informação detalhada sobre o tipo de veículo que foi lançado e como decorreu o lançamento, mas o mais provável é que Pyongyag tenha feito um novo ensaio do foguetão Unha-3, como o de 2012, para tentar melhorar a tecnologia de reentrada na atmosfera, após a fase de voo balístico.

Se for um lançador para pôr satélites em órbita, esta fase não será muito importante. Se for usado como arma, para potencialmente atingir os Estados Unidos, este passo é fundamental, e os norte-coreanos ainda não o dominaram – mas nem os EUA nem os seus aliados querem que a fechada ditadura de Kim Jong-un venha a dominá-lo.

Quais serão os objectivos da Coreia do Norte?

A Coreia do Norte nunca demonstrou ter capacidade para construir um míssil capaz de sobreviver sequer a metade das velocidades de reentrada na atmosfera a que é sujeito um ICBM. “Se o conseguirem fazer, o nível de ameaça torna-se muito real. Usar um lançador de satélites dá-lhes a oportunidade de fazer esse teste sem admitir que estão a fazer o ensaio de um míssil”, escreveu Schilling.

Pelo que se sabe até agora, o Unha-3 não parece ser um bom ICBM. Parece mais adequado a lançar satélites, diz o artigo do site 28 North, assinado por John Schilling, um engenheiro aeroespacial espacializado em sistemas de propulsão. “Os motores do segundo e terceiro andares não têm impulso suficiente para transportar ogivas pesadas. Um Unha militarizado poderia mandar uma bomba de 800 kg para Washington”, escreveu. “Os norte-coreanos poderiam fazer uma bomba nuclear desse peso, mas seria apertado. Se usarem o Unha-3 como um ICBM, não será um bom ICBM”. 

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