Merkel diz que se pudesse fazia o tempo voltar para trás

Chanceler gostava de ter estado mais bem preparada para a chegada de refugiados, mas mantém que a política foi certa, após mais uma derrota eleitoral do seu partido em Berlim.

Foto
Angela Merkel continua a não dizer se vai concorrer a um quarto mandato Fabrizio Bensch/Reuters

A chanceler alemã, Angela Merkel, reconheceu parte da responsabilidade na derrota do seu partido, a União Democrata Cristã (CDU) nas eleições de Berlim – a grande coligação CDU-SPD que governava a cidade-estado não tem uma maioria suficiente para continuar. Com 17,6%, a CDU teve o seu pior resultado na capital desde a reunificação da Alemanha.

“Se pudesse fazer o tempo voltar para trás, fá-lo-ia, muitos, muitos anos”, disse Merkel – no entanto, a chanceler não teria alterado a sua decisão de acolher milhares de pessoas em fuga da guerra no Verão passado. O que faria era preparar o país para esta chegada.

A decisão de acolher refugiados em 2015 é vista como o principal motivo da descida da CDU nas urnas nos estados-federados (esta foi a quarta derrota do partido nos Länder em cinco eleições este ano). Questionada sobre uma sondagem segundo a qual 82% dos eleitores discordam da sua política de imigração, Merkel respondeu: “Se eu soubesse que mudança as pessoas querem, estaria pronta a considerar e falar sobre isso”, declarou. “Mas a sondagem não diz nada sobre isso.” No entanto, se as pessoas não quiserem a entrada descontrolada de milhares de pessoas, Merkel diz defender o mesmo: “Ninguém quer uma repetição da situação – eu também não”.

A chanceler continua a não dizer se vai concorrer a um quarto mandato. Merkel, que já foi o trunfo eleitoral da CDU, é agora vista como uma fonte de problemas, mas não parece existir uma alternativa de liderança no partido.

Populistas da AfD com 14,2%

O descontentamento de muitos alemães – tanto pela entrada de muitos refugiados como pela gestão no acolhimento tem sido aproveitado pelo partido populista anti-imigração AfD (Alternativa para a Alemanha), que obteve 14,2% dos votos em Berlim e entra no seu décimo parlamento em 16 estados-federados, fazendo prever que dentro de um ano seja pela primeira vez representado no Parlamento nacional, objectivo que falhou por pouco em 2013, quando a sua bandeira era a crítica ao euro. 

A AfD ficou atrás de partidos como Die Linke (15,6%) e os Verdes (15,2%). O crescimento do partido incomoda no país que foi governado por Hitler e que era até agora visto, graças a ter sido palco do Holocausto, como imune ao apelo dos partidos populistas anti-imigração.

Se por um lado este é um resultado alto de um partido deste género numa cidade aberta e tolerante como Berlim (em que os residentes têm direito a voto nestas eleições), por outro os habitantes da cidade de 3,5 milhões têm razões de queixa desde o eterno atraso na abertura do aeroporto BER (que se tornou uma anedota nacional) até serviços públicos com pessoal a menos (a espera no registo no gabinete do cidadão é o pesadelo de quem muda de casa) ou dificuldade em encontrar casa.

Sinais para a eleição de 2017

A AfD está cada vez menos sozinha na crítica à política de refugiados. O partido-gémeo da CDU na Baviera, a CSU, tem pedido um tecto máximo de entradas, algo que Merkel recusa. Após cada desaire eleitoral da CDU, faz-se ouvir a voz crítica da CSU. Desta vez, o líder Horst Seehofer (que, segundo alguns comentadores, desejaria concorrer, ele próprio, a chanceler) declarou: “A situação da União [CDU/CSU] nunca foi tão difícil. A prioridade deveria ser agora os dois partidos acertarem posições sobre temas centrais para enfrentarem as eleições em Setembro de 2017. Mudando o foco, Seehofer disse, em declarações ao diário Süddeutsche Zeitung, que não está em causa apenas a política de imigração, enumerando ainda a segurança, os impostos, e a política económica.

Os resultados em Berlim não foram um desapontamento apenas para a CDU. O vencedor, o partido social-democrata (SPD), obteve apenas 21,6% - nunca um partido tinha vencido uma eleição com um resultado tão baixo, segundo o portal de estatística Statista.

A imprensa alemã destaca ainda o fim do domínio sólido dos dois partidos tradicionais, CDU e SPD, que têm governado com o apoio de um partido pequeno, tradicionalmente os Liberais e depois os Verdes, ou em conjunto. Juntos, SPD e CDU desceram de  51,6% em 2011 para 39,2%. Uma nova grande coligação CDU-SPD nas eleições nacionais em 2017 “será não só politicamente arriscada como poderá ser matematicamente impossível”, diz o analista político Cas Mudde ao Huffington Post. “Coligações a três já não são mal vistas”, diz o Süddeutsche Zeitung.

Os estados-federados vão sendo palco para experiências de coligações inéditas, e Berlim poderá experimentar uma fórmula nunca tentada: a coligação vermelho-vermelho-verde, ou seja, sociais-democratas, Die Linke (A Esquerda), e Verdes. Die Linke, um partido de esquerda radical em que estão antigos quadros do partido único da ex-RDA, nunca foi encarado como uma hipótese para uma coligação a nível federal.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sugerir correcção
Ler 1 comentários