Matteo Renzi regressa à liderança do PD mas sem o brilho de outrora

O antigo primeiro-ministro não tem rival entre os militantes e simpatizantes do partido. Mas tal não significa um regresso ao governo. A derrota no referendo de Dezembro deixou marcas

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Renzi está a pagar de uma certa forma uma excessiva personalização do poder Eric Vidal/Reuters

Matteo Renzi, ex-primeiro ministro italiano, espera ser este domingo reeleito secretário do Partido Democrático (PD, centro-esquerda) em eleições primárias abertas. Renzi demitiu-se da chefia do governo em Dezembro de 2016, após a derrota no referendo constitucional, e em Fevereiro passado abandonou a liderança do partido para obter uma relegitimação nas urnas. Os seus concorrentes são o ministro da Justiça, Andrea Orlando, e o presidente da região da Apúlia, Michele Emiliano.

Segundo as sondagens, Renzi é largamento favorito, com uma votação na casa dos 60%. Mais do que o resultado o que está em jogo é o nível de participação dos eleitores.

A demissão de Renzi ocorreu como resposta a uma cisão de membros da ala esquerda e de figuras históricas do PD, como Pier Luigi Bersani e Massimo D’Alema. A cisão foi muito minoritária mas afectou a credibilidade do líder, acusado de excessiva personalização do poder e de dividir o PD. Era obviamente um líder enfraquecido pelo desastre do referendo. Ainda hoje não recuperou o brilho e a popularidade de outrora.

Orlando apresenta-se como o candidato em melhores condições para reunificar o partido e dirigi-lo de forma colegial. Emiliano, um antigo magistrado, defende uma viragem à esquerda e terá hesitado em se aliar ao Movimento 5 Estrelas (M5S), de Beppe Grillo. Mas a questão central é a personalização do poder, que suscitou a ironia de alguns analistas que começaram a falar em “PDR - Partito Di Renzi”.

Ao longo de Março, realizaram-se primárias entre os militantes para designar os três candidatos. Renzi teve uma votação de quase 70%, à frente de Orlando e Emiliano. Este domingo, em votação aberta, militantes e simpatizantes (estes deverão assinar uma declaração de que são eleitores do partido e pagar dois euros) designarão o secretário e, implicitamente, o candidato do PD à futura chefia do governo.

Na expressão do La Repubblica, a campanha foi de “baixa intensidade” e marcada por um relativo desencanto. A aferição da vitória ou do desaire de Renzi está na participação. Ele pediu um milhão de votantes. Os concorrentes dizem que menos de dois milhões é mau. E Renzi, sem o dizer por razões tácticas, aposta em mais de um milhão. Nas primárias de Dezembro de 2013, em que foi eleito líder, votaram 2,8 milhões de pessoas. As primárias já não mobilizam como outrora. De resto, falou-se muito pouco de programas e de alianças, o assunto mais quente para o PD, que cedeu ao M5S a liderança nas sondagens.

A situação política italiana permanece nebulosa. O Governo de Paolo Gentiloni (PD) debate-se com grandes dificuldades no plano económico. Apenas Beppe Grillo se bate por eleições imediatas. O M5S permanece em primeiro lugar nas sondagens — a mais recente dá-lhe 28,5% das intenções de voto, à frente do PD, com 27,3%. A Força Itália, de Silvio Berlusconi, e a Liga Norte, de Matteo Salvini, não descolam dos 12%.

Ventos de França

Sem a aprovação de uma nova lei eleitoral comum para a Câmara dos Deputados e para o Senado, o Presidente Sergio Mattarella não dissolverá o Parlamento. Mas a nova lei levanta divergências entre os partidos. Renzi defendeu o “prémio de maioria” para o partido vencedor, Berlusconi e Salvini defendem o “prémio” para a coligação maioritária. Perante a ameaça do M5S, vários políticos de esquerda e direita, encaram o cenário de uma nova “bipolarização”, que possa funcionar como uma tenaz para o movimento de Grillo. Seria o regresso das coligações do passado.

Desta vez, é a Itália que olha para a França. Se Renzi copiou Emmanuel Macron ao adoptar nestas primárias o lema “A Caminho”, a derrota dos partidos institucionais na primeira volta das presidenciais foi sobretudo um estímulo para os seguidores de Grillo.     

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