Massimo Carminati, o “último rei de roma”

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Massimo Carminati, 56 anos, é uma lenda negra. Foi um jovem terrorista fascista nas décadas de 1970-80. Durante os “anos de chumbo”, o “terrorismo negro” (extrema-direita) precedeu o “terrorismo vermelho”. Ambos ensaguentaram a Itália. Esteve ligado a conspirações e atentados com centenas de mortos. Foi um killer frio. Participou em assaltos a bancos e no tráfico de droga. Fez de ponte entre o terrorismo e o mundo do crime. Entrou na Banda della Magliana, o gang que dominou a malavita romana nesses anos: inspirou a figura de “Il Nero” no livro Romanzo Criminale, do juiz Giancarlo de Cataldo, e na série televisiva Roma Criminal (exibida em Portugal em 2012). Chamam-lhe “Il guercio” (zarolho) por ter perdido um olho num confronto com a polícia. Muitas vezes preso, foi condenado em 1998. Depois desapareceu. Quando voltou, criou aquilo a que os juízes chamam a “Mafia Capitale”. Para os amigos, tornou-se o “último rei de Roma”.

Na terça-feira de madrugada, juízes e carabineiros lançaram um blitz contra a Mafia Capitale. Foram detidas 37 pessoas e revistadas dezenas de casas, serviços do município e da região romana, empresas municipais e cooperativas. Foi também interrogado o pós-fascista Gianni Alemanno, ex-presidente de Roma (2008-13) e antigo ministro de Berlusconi.

Os magistrados acusam os 37 detidos de delinquência mafiosa, falsificação de contratos públicos, branqueamento de dinheiro, extorsão, corrupção... Mas com um traço particular: “Grupo mafioso radicado há anos na capital, tendo como chefe Massimo Carminati, com difusas infiltrações no tecido empresarial, político e institucional.”

O procurador Giuseppe Pignatone distingue esta “máfia nova” das tradicionais: Cosa Nostra, Camorra ou ’Ndranghetta. Tendo com elas alguns laços, é “uma organização criminal romana, original e autóctone, com características próprias”. Fala em “Quarta Mafia”, com antigas conexões fascistas e heranças da Banda della Magliana. “Menos poderosa militarmente que as outras, (...) é mais lacerante e invasiva, usando métodos mafiosos para intimidar e condicionar as decisões públicas.” Não faz uso sistemático da violência, antes se infiltra na polícia e nas empresas. “Apoiou a política do centro-direita que governou a capital no mandato de Alemanno, mas não desdenhou relações com o centro-esquerda”. O seu core business são os contratos públicos, incluindo o lixo e o acolhimento dos ciganos em Roma — uma mina de ouro.

A crise dos imigrantes foi uma tragédia para a Itália e uma “oportunidade” para Carminati. A Mafia Capitale ganha milhões — do Estado e da UE — a desviar fundos dos centros de acolhimento. Disse-lhe, num telefonema interceptado, o seu adjunto Salvatore Buzzi: “Fazes ideia de quanto ganhamos com os imigrantes? O tráfico de droga rende menos.”

Noutro telefonema, Carminati teoriza “o mundo do meio”. Diz: “Em cima estão os vivos [políticos e empresários], debaixo os mortos [mundo do crime] e nós no meio. É o mundo em que todos se encontram. Seria possível jantar com Berlusconi? É possível no mundo do meio. Todos se cruzam lá. Quem está no mundo de cima tem interesse em falar com o submundo.” A operação de terça-feira chamou-se exactamente “O Mundo do Meio”.

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Massimo Carminati numa prisão nos anos 1980. Em baixo, a sua detenção na madrugada de 2 de Dezembro de 2014 DR

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