Manter a calma e seguir em frente

Durante dias, vai especular-se sobre as motivações do atacante. Se queria celebrar os ataques a Bruxelas, se visava a primeira-ministra, se tinha alguma coisa a ver com o "Brexit". A sua identidade também vai estar em causa: onde nasceu, onde vivia, a cor da pele, a religião, a família, as fidelidades ideológicas.

Tudo isso são detalhes importantes para a investigação, mas pouco relevantes para a análise do essencial: este foi um ataque à sociedade aberta que defendemos e faz parte da linha repetitiva que se arrasta desde o 11 de Setembro, apoiada na bandeira do fundamentalismo islâmico.

Pouco importa se é um acto isolado, uma acção coordenada de uma célula terrorista ou até se tem o patrocínio de alguma entidade transnacional. Em termos civilizacionais, a resposta terá de ser a mesma que Londres sempre deu: “keep calm and carry on”, que é como quem diz manter a calma e seguir em frente.

O facto de acontecer a uma semana do início oficial do processo de saída da União Europeia será um acaso. Mas um acto relaciona-se profundamente com o outro. Este ataque é ao mesmo tempo causa e consequência da discussão que redundou no "Brexit" – é a cultura do medo que se alimenta a si mesma e inspira mais terror. Mas é também a resposta errada a uma pergunta incorrecta.

Não é o fecho de fronteiras que dá mais segurança, nem é uma cultura que se fecha que fica mais protegida. Um Reino Unido longe da Europa não será um país mais seguro e de certeza que um país menos globalizado não ficará por isso miraculosamente protegido de todos os que odeiam a liberdade de pensamento e acção.

Também por isto, o "Brexit" foi um corpo estranho que se abateu sobre uma capital por definição multicultural. Esta cidade sobreviveu ao Blitzkrieg nazi, superou-se durante os anos de terror do IRA e passou quase incólume pelos atentados de 2005 em que, convém recordar, morreram 52 pessoas. Esta sempre foi a casa de uma civilização que sabe que é resistir, viver normalmente e manter os princípios face ao terror. Por causa disso só reforçou a sua identidade e força no panorama global. O mesmo deverá acontecer agora, com "Brexit" ou sem ele.

Londres, com todos os seus defeitos, funciona como o epíteto da sociedade aberta e por isso sempre foi o exemplo a uma Europa que ainda tem muito a aprender sobre tolerância. Cabe-nos ajudar a que continue a ser essa referência. 

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