Manobras a leste

A Polónia aprovou uma medida que põe em causa a independência dos tribunais e a preservação da liberdade cívica, confirmando a deriva populista de Varsóvia.

O mapa geoestratégico do lado direito da Europa está em convulsão. Quem se dedique a analisar as movimentações de tropas no Leste da Europa julgará que a Guerra Fria regressou. E não estará enganado.

Os 25 mil militares da NATO trabalharam com base num cenário pouco inocente: uma força militar terrestre vinda do leste a avançar sobre o território da União Europeia para tomar posse de activos económicos e estratégicos revelantes. A maior batalha decorreu na Roménia, onde será reforçada uma base militar. Os Estados Unidos não faltaram a esta festa militar, despachando mísseis antiaéreos Patriot para a Lituânia, ao mesmo tempo que envolveram a Marinha em exercícios no mar Negro.

A resposta do outro lado da não existente cortina de ferro já estava anunciada: são os exercícios “Ocidente” com que o Kremlin vai flexibilizar os músculos militares neste Verão.

Os russos anunciam 12.700 soldados nos exercícios para ficar abaixo do limite que exige a presença de observadores internacionais, mas ninguém acredita que o número efectivo de militares fique por aí. E isto porque quer a invasão da Ossétia do Sul quer a da Crimeia ocorreram durante exercícios militares como este que agora se anuncia — e que vão também contar com a presença de três navios chineses carregados de militares.

Nada disto é inocente e é o mais importante sinal dos tempos que se pode ter. O desequilíbrio de poderes facilitado pela crise europeia e pelo desinteresse americano sobre a NATO renovou as ambições imperialistas de uma Rússia que tem dificuldades em conter-se nas suas próprias fronteiras. Os sinais recolhidos nas últimas cimeiras internacionais demonstram que estes tempos são perigosos. Os exercícios militares comprovam-no.

E esta não é a única notícia preocupante vinda do Leste. A Polónia aprovou ontem uma medida que põe em causa a independência dos tribunais e a preservação da liberdade cívica, confirmando a deriva populista de Varsóvia. Seria importante que a Comissão Europeia desse um sinal corajoso, mas pouco se espera de Bruxelas: depois de ter deixado a Hungria de Orban colocar repetidamente em causa os valores europeus, vai também aceitar que a mais poderosa Polónia faça o mesmo. A democracia europeia fica a perder. Os cidadãos polacos também. 

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