Funerais em Itália com desespero e lamentos de quem chegou "tarde demais"

Este sábado realizaram-se os funerais de 35 vítimas do terramoto. No caixão de Giulia, de nove anos, um socorrista deixou uma nota escrita à mão: "Olá, pequenita. Desculpa ter chegado tarde demais."

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Ginásio local recebe o funeral de 35 vítimas com honras de Estado REUTERS/Adamo Di Loreto
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Em Amatrice, o presidente italiano Sergio Mattarella louvou o trabalho dos bombeiros Italian Presidency Press Office/Handout
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Matteo Renzi, primeiro-ministro italiano, antes do início da cerimónia fúnebre AFP PHOTO / ALBERTO PIZZOLI
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Os familiares de 35 vítimas mortais do terramoto em Itália abraçaram-se e choraram enquanto tocavam nos caixões alinhados no ginásio comunitário do bairro de Monticelli, em Ascoli Piceno, onde este sábado se realizou um funeral de Estado com a presença do Presidente italiano, Sergio Mattarella, e do primeiro-ministro, Matteo Renzi. Um espaço improvisado para uma cerimónia pesada, em que muitos dos presentes mostravam ainda as marcas do violento sismo que abalou a região centro de Itália na quarta-feira.

Um a um, o bispo de Ascoli, Giovanni D'Ercole, leu o nome de cada uma das vítimas. "Não tenham medo de gritar o vosso sofrimento, mas não percam a coragem. Juntos vamos construir as nossas casas e igrejas, restaurar a vida das nossas comunidades a partir das nossas tradições e dos escombros da morte", disse na homilia, em frente a um crucifixo coberto de pó que foi retirado dos escombros de uma das igrejas devastadas pelo terramoto.

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Entre as 35 vítimas estão duas crianças, entre elas a pequena Giulia, uma menina de nove anos que na quinta-feira foi retirada debaixo dos escombros de sua casa já sem vida, ao mesmo tempo que a irmã, Giorgia, de quatro anos, era resgatada pelos bombeiros sã e salva, dando alento às operações de busca.

No caixão de Giulia, uma nota escrita à mão por um dos socorristas traduzia o terror e o sofrimento vividos desde quarta-feira: "Olá, pequenita. Desculpa ter chegado tarde demais. Já tinhas deixado de respirar, mas quero que saibas, aí em cima, que fizemos tudo o que podíamos para te salvar."

Por esta altura, a esperança de encontrar sobreviventes é cada vez menor, e as atenções centram-se nos 387 feridos que ainda estão a receber tratamento nos hospitais.

Neste sábado, dia de luto nacional em Itália, o número de vítimas mortais aumentou para 291, depois de três corpos terem sido encontrados durante a noite nos escombros do Hotel Roma ,em Amatrice, a localidade mais afectada pelo sismo.

Os socorristas continuam as buscas nas cidades do centro de Itália que foram abaladas na madrugada de quarta-feira por um terramoto de magnitude 6,2 na escala de Richter. De acordo com a Protecção Civil, contam-se até agora 230 mortos em Amatrice, 11 em Accumoli e 49 em Arquata del Tronto.

Antes de marcar presença na cerimónia fúnebre em Ascoli Piceno, a capital da região, o Presidente italiano, Sergio Mattarella, chegou pela manhã a Amatrice de helicóptero para observar no local os danos causados pelo sismo, visitar o centro operacional de resgate e reunir-se com desalojados. À chegada, o Presidente italiano dirigiu-se aos socorristas da Cruz Vermelha, felicitando-os pelo trabalho árduo. "É o nosso dever, Presidente", respondeu um dos bombeiros, citado pela agência de notícias italiana Ansa.

No interior do ginásio de Monticelli, os familiares das vítimas mortais sentavam-se ao lado dos caixões, cobertos de flores, com os braços em cima deles. Um homem com cortes profundos nas pernas, sentado numa cadeira de rodas, mantinha a cabeça baixa.

À medida que os nomes iam sendo proferidos, centenas de pessoas que prestavam homenagem às vítimas no exterior do ginásio aplaudiam sem parar, num sinal de solidariedade com os familiares.

No final da cerimónia, o Presidente e o primeiro-ministro italianos falaram com os familiares das vítimas. "Vamos decidir em conjunto o que fazer para recomeçarmos. Mas não desistas, isso é o mais importante", disse Matteo Renzi a um jovem.

Ao todo, as autoridades italianas divulgaram os nomes de 181 das 291 vítimas mortais do terramoto. Dos que já foram identificados, o mais jovem tinha apenas cinco meses de idade e o mais idoso 93 anos.

Ao mesmo tempo que o país chora, as autoridades judiciais começam a investigar o que aconteceu – o terramoto foi muito forte, mas nem tudo o que aconteceu se explica de uma forma assim tão simples.

"O que aconteceu não pode ser apenas considerado uma coisa do destino. Se estes edifícios tivessem sido construídos como no Japão, não teriam colapsado", disse o procurador Giuseppe Saieva, que lidera as investigações.

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