Londres propõe união aduaneira temporária a Bruxelas

UE promete estudar "cuidadosamente" proposta britânica, mas insiste que futuro das relações só será tratado numa segunda fase das negociações.

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Quanto poderá custar a medida temporária? "Vão ter de me deixar negociar", disse o ministro para o "Brexit", David Davis HANNAH MCKAY/Reuters

O Reino Unido quer um acordo interino aduaneiro com a União Europeia depois da sua saída para permitir o máximo de trocas comerciais livres, disse o ministro para o "Brexit", David Davis, numa série de entrevistas televisivas.

No entanto, o responsável também quer que Londres obtenha o direito de negociar acordos de comércio livre com países terceiros – algo barrado aos membros da união aduaneira e que poderá ser um ponto controverso nas negociações com Bruxelas.

Esta ligação aduaneira à UE deverá ser curta, apenas o tempo suficiente para “minimizar a fricção”, segundo o documento detalhando a estratégia britânica sobre esta matéria que foi divulgado esta terça-feira pelo Governo britânico. Davis falou de uma janela de cerca de dois anos.

É a resposta do Governo à crescente preocupação de empresários, que temem ficar repentinamente sem acesso livre ao mercado europeu e sem outras alternativas imediatas para evitar demoras em alfândegas após o “Brexit” em Março de 2019.

O ministro para o "Brexit" foi questionado sobre quanto poderia custar este acordo temporário, mas escusou-se a responder: “Não vou fazer a negociação no ar”, disse à BBC Radio 4. O objectivo é ainda, acrescentou, reduzir a chamada factura do "Brexit”. "Vão ter de me deixar negociar o que acontecerá nesse período. Mas o objectivo é acabar com estes pagamentos de 10 mil milhões de libras por ano" [a actual contribuição do Reino Unido para o orçamento comunitário]. Neste momento “ainda estamos a discutir com eles quanto poderemos estar a dever no curto prazo, mas vamos acabar por resolver esta questão.”

Davis sublinhou ainda que a proposta da união aduaneira temporária serve o interesse de ambos os lados: “Vendemos-lhes [aos países da UE] cerca de 230 mil milhões de euros em bens e serviços por ano. Eles vendem-nos 290 mil milhões.”

Numa primeira reacção ao documento revelado esta manhã, um porta-voz da Comissão Europeia afirmou que Bruxelas vai estudar “cuidadosamente” a proposta britânica sobre esta união aduaneira. Reafirmou, no entanto, que o futuro das relações com Londres não está ainda em cima da mesa nas negociações iniciadas em Junho, as quais só começarão a ser discutidas quando a UE entender que houve “progressos suficientes” sobre as matérias relativas à saída britânica, a começar pelos direitos dos cidadãos afectados pelo "Brexit" e o montante das contribuições devidas pelo Reino Unido no momento da saída. 

A UE esperava tomar uma decisão sobre o assunto na cimeira prevista para Outubro, mas os negociadores europeus não esconderam que foram feitos poucos progressos na primeira ronda de negociações, sugerindo que Londres não tinha ainda apresentado posições claras sobre as matérias em discussão. Londres tenta agora responder a essas críticas, anunciando para os próximos dias a divulgação de um punhado de documentos com a sua posição com alguns dos temas quentes das negociações. “Consideramos que a publicação destes documentos com a posição britânica são um passo positivo para começarmos realmente as negociações desta primeira fase. O relógio está a contar e isto irá permitir-nos avançar”, afirmou o porta-voz.

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