Lille cancela grande feira anual por receios de segurança

"Há riscos que não é possível reduzir", afirma Martine Aubry, a presidente de câmara local, para justificar a suspensão de um dos principais eventos anuais na cidade.

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Em 2015, perto de 2,5 milhões de pessoas passaram pela Braderie de Lille Philippe Huguen/AFP

As autoridades de Lille decidiram anular a edição deste ano da Braderie, a grande feira da ladra que todos os anos, no primeiro fim-de-semana de Setembro, toma conta do centro da cidade, por receio de que o evento – onde eram esperadas mais de dois milhões de pessoas – pudesse ser alvo de um ataque. É a última de várias festas e celebrações a ser cancelada por causa da ameaça terrorista em França.

“É um problema de responsabilidade moral”, disse Martine Aubry, dirigente socialista e presidente da câmara da cidade, no Norte de França, explicando que “tudo foi feito para aumentar” a segurança da feira, prevista para 3 e 4 de Setembro, “mas há riscos que não é possível reduzir”. “Esta é uma decisão dolorosa”, admitiu a autarca, antecipando críticas que se fizeram ouvir mal foi feito o anúncio.

O estado de emergência vigora em França desde os ataques de Paris, em Dezembro, quando 130 pessoas foram mortas por um comando armado. Mas as excepcionais medidas de segurança não impediram que, a 14 de Julho, um tunisino a viver em França tenha lançado um camião contra uma multidão que festejava o feriado nacional na marginal de Nice, matando 85 pessoas. Ambos os atentados foram reivindicados pelo autoproclamado Estado Islâmico, apesar de subsistirem dúvidas sobre a efectiva ligação de Mohamed Lahouaiej Bouhlel aos jihadistas. Já na semana passada, dois atacantes de 19 anos atacaram uma igreja da Normândia, matando o padre Jacques Hamel.

O Governo insiste que os franceses não vão ceder ao medo e que as medidas de segurança adoptadas são as adequadas – ainda nesta sexta-feira, o Presidente François Hollande disse que a ameaça não põe em causa a candidatura de Paris aos Jogos Olímpicos de 2024. Mas nas últimas semanas sucederam-se os cancelamentos de festivais de verão, festas populares e eventos desportivos por não reunirem condições de segurança necessárias, e a polícia reforçou a protecção em mais de 50 outros festejos, adianta a Reuters.

A feira de Lille – uma mistura de feira da ladra, mercado de velharias, festival de saldos e feira gastronómica que tem as suas origens em tempos medievais – representava um desafio difícil de superar nestes tempos de segurança máxima. O perímetro da feira, que se estende por dezenas de ruas no centro da cidade, foi reduzido, reforçou-se a presença policial e proibiu-se o uso de botijas de gás, noticiou a AFP. Mas as autoridades acabaram por concluir que não era possível minimizar todos os riscos, num evento que não é vedado e que deixa as ruas apinhadas de gente – em 2015 perto de 2,5 milhões de pessoas passaram pela Braderie, que os organizadores dizem ser a maior feira do género em toda a Europa.

“Há um momento, não obstante as nossas paixões e convicções, em que temos de dizer basta a um modelo que foi ultrapassado pelas exigências de segurança”, explicou Michel Lalande, prefeito da região de Nord, que incluiu Lille.

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