Liderança da Frente Nacional envolvida em polémica sobre o Holocausto

Le Pen passou à segunda volta com 21,3% dos votos e colocou o seu lugar no partido à disposição para se dedicar exclusivamente à presidência francesa.

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Steeve Briois deverá agora assumir a liderança temporária do partido LUSA/ARNOLD JEROCKI

Nem tudo vai bem no reino da Frente Nacional. Apesar do resultado da primeira volta das eleições presidenciais francesas, que qualificaram Marine Le Pen para a segunda volta contra Emmanuel Macron, a liderança do partido está agora sob pressão devido a declarações proferidas pelo vice-presidente do partido sobre o Holocausto.

Na segunda-feira, Le Pen anunciou que iria “suspender” o seu cargo de presidente da Frente Nacional, o partido de extrema-direita que lidera, para se dedicar exclusivamente à presidência francesa.

Mandam os estatutos do partido que Le Pen fosse temporariamente substituída pelo vice-presidente da Frente Nacional, Jean-Francois Jalkh, e nada indicava que outro caminho fosse adoptado.

No entanto, soube-se esta sexta-feira que Jalkh não quer aceitar o cargo. Em causa estão as suas declarações sobre acontecimentos relacionados com o Holocausto. O vice-presidente do partido de extrema-direita francês terá feito comentários sobre as câmaras de gás dos campos de concentração nazis, questionando a eficácia dos produtos utilizados para matar milhões de judeus. As controversas declarações remontam a uma entrevista de 2000 e foram recuperadas pelo Le Monde esta quinta-feira e transcritas na íntegra.

O jornal cita a académica Magali Boumaza, que terá conduzido a entrevista de três horas.

Jean-Francois Jalkh garante que não tem memória das declarações. “É a primeira vez que ouço esse lixo. Não tenho memória disso. Posso ter dado uma entrevista, mas esse não é dos meus assuntos preferidos”, disse ao jornal francês o eurodeputado.

De acordo com Louis Aliot, um dos membros do partido e companheiro de Le Pen, Jalkh “sente que o clima não é propício a este papel interno”, escreve o Le Monde. “Ele quer defender-se e irá apresentar uma queixa, porque sente que a sua honra foi atacada. Posso garantir que ele nega firme e formalmente as acusações que de que é alvo”, sublinhou Louis Aliot, num canal francês.

Steve Briois, presidente da câmara de Henin-Beaumont desde 2014, deverá assumir esse papel.

O incidente reacende a controvérsia em torno do carácter racista e xenófobo do partido, numa altura crucial da campanha da candidata francesa.

Le Pen, a líder de 48 anos que representa um partido com uma visão nacionalista e contrária ao multiculturalismo, tem tentado distanciar-se do anti-semitismo que foi durante décadas uma das imagens da Frente Nacional. Em 2015, a líder da Frente Nacional chegou mesmo a expulsar o seu pai e fundador do partido, Jean-Marie Le Pen. "Jean-Marie Le Pen não deve mais poder falar em nome da Frente Nacional, as suas declarações são contrárias à linha fixada", declarou, à data, sobre declarações em que Jean-Marie Le Pen se referia às câmaras de gás como “um detalhe" da história da II Guerra Mundial.

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