Outro tirano embalsamado

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O “Supremo Líder” e “Brilhante Camarada” Kim Jong-un é um pândego da Coreia do Norte que gosta de beber e festejar toda a noite e manda vir do estrangeiro material de sauna para combater as ressacas, à semelhança do pai e do avô, e ninguém tem nada com isso. Infelizmente, o mais jovem chefe de Estado do mundo (31 anos) é também um facínora à moda antiga, um vilão de 007, e assassino que só serve para outros estadistas mostrarem que são menos maus do que Kim Jong-un.

Nascido a (automático feriado nacional…) 8 de Janeiro de 1982, ou de 1983, ou no ano em que lhe apetecer porque ele controla o Tempo, Kim Jong-un é o último varão do aborto ideológico e capilar que é a Coreia do Norte, única dinastia comunista da Terra. O seu pai foi o Presidente Kim Jong-il, por sua vez filho do fundador desta potência nuclear, Kim Il-sung, dois apaixonados pela estatuária gigante de si próprios.

Pai e avô estão embalsamados e aquilo vale a pena visitar porque dizem que é muito bonito, o vidro, a luz, etc., desde Lenine que não se via trabalho tão perfeitinho. Peça já o seu visto, ainda há vagas para entrar em 2020. Para sair é que não há vagas para ninguém, a Coreia do Norte é o Estado mais fechado do mundo e quem for apanhado a fugir já não gasta mais tempo e recursos a comer urtigas e mais sobra para os outros.

A Coreia do Norte, com os seus campos de trabalho, os pelotões de fuzilamento e o uso político da distribuição (ou negação) de alimentos, consegue manter viva, na península coreana, a chama imperial de José Estaline: “Uma única morte é uma tragédia, cem mil mortos uma estatística.”

No entanto, como disse em tempos lúcidos o ex-parlamentar do PCP Bernardino Soares, não temos “a certeza de que a Coreia do Norte não seja uma democracia”. Porque os princípios da fundação da Coreia do Norte, quando se separou em guerra da Coreia do Sul, são límpidos: é um aprofundamento mais aprofundado do sistema comunista soviético. E, como se sabe, quanto mais batermos no fundo, mais ele desce. Kim Il-sung chamou à sua filosofia “ideologia Juche”. É suposto ser um conjunto de pensamentos mais elaborado do que o marxismo clássico, com um toque de independência nacional:

A revolução proletária pertence às massas, o homem é o guia da revolução e as massas populares são donas do mundo e de seu próprio destino.

Uma curiosidade é que este tipo de pensamento teve seguidores inesperados no neoliberalismo capitalista, como as perversões de controlo estatal da economia e dos cidadãos por Pedro Passos Coelho. O recente caso português, aliás, promete fazer doutrina neo-Juche no século XXI:

A revolução passos-coelhista pertence à troika, o dinheiro é o guia da revolução e as massas populares são escravas do mundo financeiro e do seu próprio e miserável destino.

Acusado de crimes contra a Humanidade (Kim Jong-un, não o Pedro) num recente relatório da ONU, o regime norte-coreano assenta no violento controlo da liberdade de expressão dos adultos. Só deixa falar os Hugos Soares lá do sítio, dizem relatores especiais dos direitos humanos que falaram com desertores sobre a liberdade de voto e de consciência. É toda a gente a fazer vénias diante do líder e da sede do partido, desde a juventude, se querem chegar a algum lado na vida.

Pior do que isso, a política infantil assenta no culto doentio da personalidade e na contínua lavagem dos cérebros das crianças. É como se Paulo Portas lhes batesse à porta de casa todos os dias com uma malinha para explicar o sucesso das exportações. O que é, aliás, o que este faz.

Mas péssimas comparações que não lembram ao diabo não ficam por aqui.

Em 2013, a Coreia do Norte ameaçou os Estados Unidos com a destruição nuclear de Los Angeles e Washington. Ideia radical de um presidente que chegou a marechal e a comandante supremo das Forças Armadas sem perceber nada de guerra. É um pouco como admite, em privado, o ministro da Defesa, Aguiar Branco, afirmam alguns especialistas que também nunca andaram na tropa.

Outra das curiosidades é o uso sistemático de purgas: todos aqueles que discordam acabam por desaparecer, uma pessoa entra em Pyongyang, quer falar com os Antónios Capuchos e não se vê nenhum e se perguntarmos a um polícia ele manda-nos “é circular, circular” lá na linguagem deles.

No entanto, o uso da fome como arma política na Coreia do Norte não tem paralelo com Portugal, é muito diferente: nesse Estado totalitário, que se saiba (mas sabe-se tão pouco da Coreia…) os mais idosos não sofrem cortes nas pensões todos os meses.

Para acabar a biografia de um grande líder mundial, é bom lembrar que uma imagem satélite captou, há meses, uma mensagem de meio quilómetro nas rochas, nas margens de um lago: “Longa Vida ao General Kim Jong-un, o Sol Resplandecente!”

Parecida com a obra de engenharia a escavar em barragem e paga com dinheiros europeus (Durão Barroso desbloqueará as verbas): “Longa Vida ao Primeiro-Ministro Passos Coelho, o Mole do Ajustamento!”     

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