Jornalistas autocensuram-se face a ameaças de violência e intimidação

Ameaças físicas, invasão de privacidade, difamação e destruição de propriedade são algumas das pressões e violências registadas por jornalistas, assinala Conselho da Europa.

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Ricardo Silva/Arquivo

Um relatório publicado esta quinta-feira pelo Conselho da Europa conclui que os jornalistas a trabalhar na Europa estão frequentemente expostos a interferências infundadas e indesejadas no seu trabalho, muitas vezes sob forma de intimidação e violência. Consequentemente, os profissionais sentem-se ameaçados e acabam por se autocensurar, sublinha o estudo.

A forma de violência mais comum, vivida por cerca de sete em cada dez jornalistas, é a violência psicológica, com recurso à intimidação e ameaças, difamação e humilhação.

A segunda forma de interferência mais frequente é cyberbullying, denunciada por 53% dos jornalistas inquiridos. A maioria das acusações assenta em supostos partidarismos e parte para o ataque pessoal, difamação pública e campanhas de descredibilização.

Existem ainda relatos de intimidações vindas de grupos de interesse. Cerca de 50% dos jornalistas queixam-se desta pressão, sendo 46% ameaçados através de violência física ou intimidados por grupos políticos (43%). Para além destas forças de ameaça mais “directas”, os jornalistas ameaçados denunciam ainda perseguições e invasão de privacidade (39%), bem como intimidação de forças da autoridade (35%).

No entanto, os ataques vão mais longe. Um terço dos jornalistas já sofreu agressões físicas durante períodos superiores a três anos. Casos de violência física são mais denunciados na região do Cáucaso Sul e Turquia, mas também ocorrem em alguns Estados-membros da União Europeia, mostram os dados recolhidos.

Além disso, para lá das ameaças e violência pessoal, há casos de roubos, destruição de material e propriedade relacionada com o trabalho (21%) e assédio sexual (13%). Já um quarto diz que, nos últimos três anos, já foi intimidado judicialmente (através de ameaças de prisão ou acusações judiciais).

Três quartos dos inquiridos acrescentam ainda que não se sentem protegidos e metade sublinha que acredita que a capacidade de proteger as suas fontes também está comprometida e por isso mais de um terço destaca que não tem mecanismos para se proteger contra a interferência no seu trabalho por parte de terceiros. 

O resultado é o aumento dos níveis de autocensura dos jornalistas. Um em cada cinco diz-se pressionado para apresentar os seus artigos de forma a não ir contra os seus empregadores. Muitos sentem-se ainda pressionados para diminuir o espaço para uma possível controvérsia nos temas que tratam (31%) e outros guardam para si determinadas informações com medo de represálias (23%) ou abandonam por completo as histórias que estavam a seguir (15%). Outros destacam o medo que sentem em relação às ameaças da segurança de familiares ou amigos.

Ainda assim, as reacções dividem-se. Há quem, face à pressão, se sinta ainda mais comprometido com a resistência à censura e encontre nessa pressão uma maior motivação para lutar contra as intimidações. 

O grupo de investigadores olhou, com base em inquéritos anónimos, para 940 jornalistas de 47 países-membros do Conselho da Europa, que incluem todos os Estados-membros da União Europeia e 21 países da Europa Central e Oriental, às quais se somou a Bielorrússia, entre Abril e Julho de 2016. 

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